Que o crescimento projetado para a economia brasileira no ano 2001 foi duramente afetado pela crise de energia elétrica, não resta a menor dúvida. O que não se sabe é o quanto. As estimativas, todas chutadas, vão de 1 a 3 pontos percentuais na variação do PIB, o que eqüivaleria a uma taxa entre 3% a 1% (bem diferente dos 4,5% estimados no final de 2000).
Essa perspectiva é muito ruim. Compromete a credibilidade do país interna e externamente. Dificilmente as metas de atração de capitais externos para fechamento do balanço de pagamentos será alcançada (é preciso não esquecer que o déficit nas contas correntes com o exterior é a maior vulnerabilidade macroeconômica do país). É difícil convencer um investidor a colocar dinheiro num país que não tem energia para crescer.
Internamente, dissemina-se a impressão de que o crescimento sustentado da economia não tem como deslanchar. Sempre que o horizonte se desanuvia e se vislumbram dias melhores, em termos de crescimento da economia, aparece alguma coisa para atrapalhar.
Para se ter uma idéia de como o racionamento atinge em cheio o ânimo da indústria, que vinha puxando o ciclo atual de expansão da economia com índices de crescimento anualizado acima de 6%, veja-se a declaração do empresário da Coteminas (um dos maiores grupos têxteis do país) na revista Dinheiro desta semana:
“Todos estamos com um sentimento de frustração. É essa sensação de stop-and-go que sempre atinge o país, como se nunca conseguisse superar uma crise e andar para a frente.”
Josué Cristiano Gomes da Silva
A essa frustração com o turvamento das perspectivas, junta-se uma outra mais visível nas conversas e opiniões emitidas por todos, tomados de perplexidade: a revolta diante da falha indesculpável de planejamento do governo federal. Todos pensam e dizem abertamente: “como é que o governo deixa acontecer uma situação dessas?”
A revista Exame desta quinzena, estampa com todas as letras a crise de energia como “o maior fiasco de gestão governamental da história recente do país“.
Todavia, como que a provar mais uma vez que somos um país de contrastes, um fato curioso e contraditório está acontecendo: mesmo sem que ainda tenham entrado em vigor as medidas efetivas de contenção (sobretarifas e cortes), o consumo de energia tem caído a níveis surpreendentes em todo o país. Em São Paulo, segundo a Folha de S. Paulo de 27.05.2001, na última quarta-feira 23, só com o anúncio das medidas de racionamento, o consumo médio do estado caiu 12,6%.
Esse parece ser um forte indício de que as metas de redução estabelecidas devem ser atingidas e de que, minimamente informada da gravidade do problema, a população colabora indo, talvez, até além do estabelecido.
O governador do Paraná, Jaime Lerner, que empreendeu um bem sucedido programa de produção de energia no estado, na revista ISTOÉ desta semana, chega a exaltar com veemência essa característica:
“Tudo o que aprendi em 30 anos de vida pública é que, quando as pessoas sabem qual é o resultado de suas atitudes, elas ajudam a fazer acontecer.”
Jaime Lerner, governador do Paraná
Esse fato reforça a convicção de que se tivéssemos sido chamados a colaborar há dois anos atrás, quando o regime de chuvas começou a mostrar-se crítico, não estaríamos passando pelo vexame atual. Dessa frustração toda, resta um consolo: o país dá mostras de que pode sair dessa fortalecido, inclusive usando mais racionalmente um recurso tão precioso quanto a energia elétrica cujo desperdício é estimado no país em, pelo menos, 15% do que é consumido.