O lado solitário doexercício da liderança

 
Há uma razoável confusão conceitual disseminada em publicações, conversas e opiniões emitidas quando o assunto é liderança. Principalmente no que se refere ao aspecto da tomada de decisão.
Para aqueles, que cultivam um ponto de vista mais tradicional, toda decisão é de responsabilidade única e exclusiva do líder que não deve compartilhá-la com ninguém, sob pena de desmoralizar sua autoridade. Para outros, no extremo opinativo oposto, toda decisão deve ser resultado de um “consenso” decorrente, o máximo possível, do debate sobre o tema em relação ao qual se deve decidir.
Há, na literatura específica, exemplos de opiniões ilustrativas das duas formas de entender a questão.

” O consenso é para quem não sabe liderar.”

Margareth Thatcher, ex-primeira ministra britânica

” Livre fluxo de idéias e sentimentos conflitantes é essencial para o pensamento criativo. Para descobrir novas soluções ninguém deve contar só consigo mesmo.”

Peter Senge, autor de “A Quinta Disciplina”

Na verdade, a observação da realidade organizacional contemporânea tem demonstrado que, neste caso, pelo menos, a virtude está no meio. Nem a decisão deve ser fruto de uma atitude auto-suficiente do gerente que resolve fazer o que lhe vem a cabeça, sem ouvir ou consultar ninguém, nem, por outro lado, ele deve repassar a responsabilidade por decidir para sua equipe, sob o argumento falsamente “democrático” de que o que for escolhido pela maioria deve ser adotado.
Em ambos os casos, sem a menor sombra de dúvida, a qualidade da decisão estará comprometida. Quando decide sem ouvir ninguém, o líder arrisca a qualidade da sua decisão porque deixa de se aproveitar da riqueza de pontos de vista diferentes do seu, às vezes essenciais para uma abordagem mais criativa e, portanto, mais competitiva, do problema que se deseja resolver. Quando repassa para o grupo a responsabilidade pela escolha da solução a adotar também compromete o resultado final porque está abrindo mão do poder, indelegável, de deliberar sobre o rumo a ser seguido, enfraquecendo sua posição de liderança.
É fundamental, portanto, que para qualificar a decisão a ser tomada, o líder tanto ouça e estimule que todos os integrantes da equipe emitam suas opiniões, quanto reserve para si a responsabilidade final. E, aí, embora deva, em princípio, pedir a opinião dos outros não pode deixar de assumir, ele mesmo, o ônus da decisão a ser tomada. Por isso, o líder não pode escapar do fato de que o ato decisório, por mais discutido que for, é sempre, em última análise, um ato solitário, seja no acerto, seja no erro e no aprendizado decorrente.

” Não administramos sozinhos, mas aprendemos e assumimos responsabilidades sozinhos. Podemos aprender numa escola, ou sermos autodidatas, mas a vivência da aprendizagem é uma experiência solitária.”

Laurent Lapierre, professor canadense

Um “segredo” importante da liderança bem sucedida é, justamente, conseguir esse equilíbrio entre o estímulo permanente à expressão da opinião diversa da do líder (e ao conseqüente debate criativo) e, ato contínuo, preservar para si a responsabilidade pela palavra final. Isso, tendo em mente que o exercício da liderança não é um “passeio” nem admite rigidez ou fraqueza.

” Liderança não é coisa para gente fraca. Assumir a responsabilidade de conduzir outros à batalha – tanto na guerra como no trabalho – não é para fracos.”

Tom Peters, consultor norte-americano

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