O anúncio pelo IBGE, na semana passada, dos números do PIB no segundo trimestre de 2001 sacramentou a suspeita que todos tinham sobre a queda do crescimento mas assustou pela magnitude.
No acumulado de maio a junho a economia cresceu menos 0,99% que o trimestre anterior, reiniciando aquilo que em economia se chama de movimento stop and go. Trata-se, a presente edição do movimento ciclotímico, do resultado do acúmulo da crise argentina com a crise de crescimento da economia mundial e, para coroar, a crise de energia que, por sinal, só impactou, de fato, o índice no mês de junho, quando começou o racionamento (o que permite suspeitar de um impacto ainda maior no segundo semestre).
A constatação dos analistas é de surpresa. Na Folha de S. Paulo, Antonio Barros de Castro, professor da UFRJ e ex-presidente do BNDES, um dos mais embasados defensores das boas condições de crescimento da economia brasileira, passou do otimismo ao pessimismo; enquanto Luiz Carlos Mendonça de Barros, também ex-presidente do BNDES e ex-ministro das Comunicações, do grupo dos chamados “desenvolvimentistas” faz ironia.
“Está se tornando evidente que pertencemos a um grupo de países que está sempre se preparando para crescer, mas de alguma maneira apenas aguarda a próxima crise.”
Antonio Barros de Castro
“Com isso, voltamos ao padrão do vôo da galinha para a trajetória do crescimento econômico nos anos FHC: voa e cai, voa e cai…!”
Luiz Carlos Mendonça de Barros
Essa queda interrompe o terceiro ciclo de crescimento do governo FHC. O primeiro iniciou-se com o Plano Real e teve seu auge no segundo trimestre de 1995, com crescimento de 8,29%, e seu ponto mais baixo no segundo trimestre de 1996, com crescimento de 0,36%. O segundo ciclo teve seu ponto máximo no segundo trimestre de 1997, com crescimento de 4,65%, e o seu ponto mais crítico no segundo trimestre de 1999, com crescimento negativo de 0,65, efeito da desvalorização do real em janeiro daquele ano. O atual ciclo, terceiro e último, começou para valer depois que a economia acomodou-se à flutuação do real e teve um crescimento contínuo do segundo trimestre de 1999 até o segundo trimestre deste ano (ver a respeito o GH número 288).
Se a dinâmica das situações anteriores se mantiver, teremos, no mínimo, um segundo semestre recessivo. Da previsão que se tinha de um crescimento em 2001 da ordem de 4,5% com inflação de 4%, resta apenas a lembrança. Dificilmente o crescimento alcançará os 2%, já que o segundo semestre será pior do que o primeiro (que, com os resultados divulgados agora, cresceu apenas 2,49%), e a inflação não será menor que 6%.
Se servir de consolo, como diz a jornalista Lillian Witte Fibe, as previsões para 2002 são mais alentadoras.
“Acredita-se que, no ano que vem, os fatores de redução da renda nacional terão sido em boa parte amenizados. A começar pelo ingrediente mais forte, a taxa de juros. Tudo indica que a economia mundial crescerá mais, que o racionamento deve acabar no começo do ano, e que a Argentina, bem ou mal, ‘sairá do radar de nossas preocupações’, conforme disse um de nossos entrevistados.”
Lillian Witte Fibe, http://www.terra.com.br/jornaldalilian
Mas, aí, já estaremos na reta final do governo FHC e em plena sucessão presidencial, quando novo período de incertezas se projetará no futuro. A saída é redobrar os esforços para dentro das empresas e para o mercado porque, pelo que tudo indica, é o que temos de mais estável, apesar dos pesares. A macroeconomia não jogará a favor nos próximos meses.