Â
Já que a trégua não se dá nos campos de batalha, onde continuam a se desenrolar tanto o conflito bélico quanto o psicológico, agora com a suspeita, relatada pelo jornal The Washington Post, de que os atentados bacteriológicos tenham também sido praticados por extremistas norte-americanos, o Gestão Hoje dá sua trégua para falar de um assunto de interesse das empresas: marketing.
Não o marketing estereotipado mas um marketing ao qual se poderia chamar “básico”, e que pode ser observado numa atividade aparentemente insuspeita de praticá-lo: a arte popular.
Paralela à mostra internacional “A Porta do Inferno” de Rodin, na Pinacoteca do Estado de São Paulo (por sinal, um estabelecimento de primeiro mundo), junto à Estação da Luz na capital paulista, está acontecendo a amostra “O Essencial em Estado Bruto” do escultor popular cearense Nino. Natural do Crato, analfabeto, Nino, autor de esculturas em madeira, define assim seu processo produtivo:
“Vendo o toco eu dou fé logo do que assenta naquele pedaço de pau; corto até deixar no jeito. Primeiro desenho com a tinta as figuras, depois cavo com o escopo. Vou fazendo e refazendo, à s vezes tem uma falha, eu vou ajeitando. (…) Quero que o povo ache bonito.â?
Nino, escultor popular cearense
Um processo descrito pela curadora da mostra, Dodora Guimarães, do seguinte modo: “um toco, quatro escopos, uma machadinha e um facão afiado, um tico de tinta e um pincel calejado…”. Primitivo mas capaz de produzir peças belÃssimas, de uma leveza e alegria.”
O que chama atenção, sob a ótica do marketing, é justamente a frase final “quero que o povo ache bonito”. Aà está a verdadeira conexão que une a produção e a venda. Theodore Levitt, um dos “papas” do marketing e um dos seus teóricos mais respeitados tem a seguinte definição que ajuda a contextualizar Nino:
“… uma indústria é um processo de satisfação de consumidores, e não um processo de produção de bens… Uma indústria começa com o consumidor e suas necessidades, não com uma patente, uma matéria-prima ou um talento para vendas.”
Theodore Levitt, teórico norte-americano
A força do produto de Nino está em aliar o seu indiscutÃvel talento produtivo com essa necessidade de satisfazer o cliente pela beleza. Sem ela ele não produziria tanto nem seria conhecido, a ponto de ter uma mostra na capital cultural do paÃs. Mas Nino não pára por aÃ, e vai mais além:
“Se a pessoa não está satisfeita, eu trato de ir ajeitando, aà se tornar a dizer não, eu digo que não tem jeito não, tem que ir procurar outro. A peça pode ficar porque chega outra que se agrada. As coisas que eu tenho feito não empancam.â?
Nino, escultor popular cearense
Pensando assim, mesmo sem saber, Nino vai além do marketing tradicional ao admitir que fazer o que o cliente quer tem o limite da satisfação de quem produz. Além disso, quando o produtor se curva completamente às exigências do cliente, abre mão dos atributos da marca e pode se descaracterizar. Afinal, nunca é demais lembrar:
“O segredo do marketing é a arte de criar uma marca valiosa. Sem ela, torna-se muito fácil copiar o produto.â?
Philip Kotler, mestre do marketing
Buscar fazer o que satisfaz o desejo do cliente preservando sua própria identidade e satisfação. Simples, básico e vital para o sucesso.