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No discurso que fez, em francês, na Assembléia Nacional da França, a semana passada, o presidente Fernando Henrique Cardoso, recebeu, ao final, uma ovação nunca concedida a um chefe de estado estrangeiro. Mais de um minuto e meio de aplausos, além de nove interrupções, durante o discurso de 15 minutos.
Falando do acontecimento, o presidente Jacques Chirac, ao receber o presidente brasileiro no Palácio do Eliseu, sede do governo francês, disse:
“Não me recordo de um chefe de Estado estrangeiro que tenha tido tanto sucesso quanto ele.”
Jacques Chirac, presidente da França
Sucesso semelhante já havia tido quando falou na abertura da Conferência Sobre Transição e Consolidação Democrática, na semana anterior em Madri, por onde começou sua 81ª visita internacional. Entre Madri e Paris, passou o fim de semana na casa de campo do chefe de governo inglês, a convite do primeiro-ministro Tony Blair, onde discutiram, junto com outro convidado, o ex-presidente dos EUA Bill Clinton, a conjuntura mundial.
A despeito da contestação que sofre dentro do paÃs, o presidente brasileiro tem construÃdo, ao longo dos anos, um reconhecimento incomum no cenário internacional e isso tem sido bom para o Brasil.
“à bobagem minimizar as posições de FHC sobre questões internacionais. Trata-se de um complexo de inferioridade bobo, de quem julga presunção um paÃs como o Brasil aspirar ser ouvido no plano internacional.â?
LuÃs Nassif, colunista da Folha de S. Paulo
Essa observação de LuÃs Nassif, é importante. Há que fazer uma distinção entre o FHC gestor interno e o representante internacional. Ele chega a ser contundente:
“No plano interno, a gestão FHC tem-se constituÃdo numa sucessão de desastres, de falta de visão estratégica e de continuidade na ação. No plano internacional, trata-se de uma das vozes mais acatadas do mundo. Pela primeira vez, o Brasil tem um governante cuja opinião é acatada nos principais centros de poder o que aumentou sensivelmente a influência internacional de nossa diplomacia.”
LuÃs Nassif
Essa representação positiva externa que o presidente tem é especialmente importante na atual conjuntura internacional (ver a propósito Gestão Hoje 347). O Brasil, dadas suas caracterÃsticas de nação emergente pacÃfica, pode vir a desempenhar um papel internacional muito relevante.
Outra oportunidade nesse sentido acontecerá no próximo sábado dia 10.11.2001, quando Fernando Henrique Cardoso, cumprindo a tradição que concede ao Brasil o direito de fazê-lo, abrirá a Assembléia Geral da ONU em Nova York.
Repetirá, provavelmente em inglês, o que já falou em francês relativamente ao que precisa mudar nas relações internacionais, reforçando a necessidade de queda das barreiras protecionistas dos paÃses ricos em relação à s importações dos paÃses emergentes e a necessidade de se estabelecer uma regulação ativa dos fluxos financeiros internacionais (defende a instituição de uma taxa sobre as transações que seria usada para socorrer os paÃses vÃtimas de ataques contra suas moedas).
O presidente em Nova York terá também a oportunidade de, a julgar pelo que se especula seja o seu sonho depois que deixar a presidência do paÃs, reforçar sua candidatura a Secretário Geral da ONU. Sonho que se concretizado tornará profética a irônica observação de Millôr Fernades de que “FHC será o nosso melhor ex-presidente”.