Para além das turbulências,2002 deve ser melhor que 2001

 
2001, “o ano em que vivemos em perigo”, mesmo já perto do final, ainda é capaz de surpreender: explode a tensão social na Argentina e a revolta popular força a renúncia do ministro Cavallo e do presidente De la Rúa. Uma constatação óbvia: a corda foi esticada além da conta e partiu-se. O custo de não desvalorizar o peso, fixo ao dólar há mais de 10 anos, ficou alto demais.
Em meio à tragédia argentina, um aspecto positivo para o Brasil: parece que o tão temido “contágio” não aconteceu. Ao que tudo indica, à medida em que a crise do país vizinho foi-se aprofundando, foi ficando evidente, também, para os agentes econômicos internos e externos que a nossa situação era muito diferente da deles. Desde janeiro de 1999, quando adotamos o sistema de câmbio flutuante, que a economia consegue absorver as expectativas e os impactos de demanda sobre o dólar sem ter que recorrer à recessão e aos cortes drásticos de despesas.
Não é demais lembrar que, como conseqüência das expectativas geradas cumulativamente pela crise de energia, pelos ataques terroristas nos EUA e pelo próprio prolongamento da crise da Argentina, tivemos uma maxi desvalorização durante o ano de 2001 que chegou a 40% (o dólar ultrapassou a casa do R$ 2,80), sem que o mundo se acabasse por causa disso.
Uma curiosidade: 40% é, justamente, quanto se estima que o peso argentino está desvalorizado em relação ao dólar. Pode-se dizer até, de uma forma um tanto simplificadora, que, em última análise, toda essa confusão que está acontecendo lá é o custo que está sendo pago por não se fazer a desvalorização necessária. Claro que, por conta dos longos anos de atrelamento peso/dólar, a situação tornou-se bem complexa e uma desvalorização “pura e simples” não será nem pura nem, muito menos, simples.
É importante considerar que o fator Argentina é um dos cinco que influenciarão o desempenho da economia em 2002 (os outros são: a crise energética; as conseqüências da guerra ao terrorismo; o desempenho da economia mundial; e o desdobramento do processo eleitoral) (ver a respeito o Gestão Hoje 355).
Dependendo do desenrolar desses fatores, se tudo ocorrer sem maiores surpresas, a economia do país em 2002 terá um desempenho igual ou melhor que em 2001. Nesse cenário mais provável, o desempenho das principais variáveis macroeconômicas deverá ser o apresentado a seguir.
1. Inflação
Deve ser menor que a verificada em 2001 e situar-se entre 4% a 6%. O último acordo com o FMI prevê um índice de 3,5% em 2002, com uma variação de dois pontos percentuais para mais ou para menos. É importante destacar que a principal marca do governo Fernando Henrique Cardoso é o controle da inflação, por isso seria insensato supor que no último ano de mandato esse objetivo fosse desconsiderado.
2. Juros
Devem ser iguais ou levemente inferiores aos verificados em 2001 e, portanto, ainda permanecerão elevados, em torno dos 19% (taxa básica). É importante não esquecer que a taxa de juros é o principal instrumento de que dispõe o BC para controle da inflação.
3. Câmbio
Deve flutuar mas terminar o ano em patamares inferiores ao máximo alcançado em 2001. Num regime de câmbio flutuante é muito difícil fazer previsão de valores, uma vez que o dólar funciona quase como uma mercadoria qualquer: quando há demanda sobe, quando há oferta desce.
4. Crescimento
Deve ser igual ou superior ao verificado em 2001. As previsões situam-se na casa dos 2,5%. É importante lembrar que a realidade do país tem sido historicamente maior que as previsões mais pessimistas. O país sempre cresce mais do que antecipam as piores previsões.

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