Passado o carnaval, costuma-se dizer no Brasil que o ano, finalmente, começa. É injusto com todos que trabalhamos antes (e alguns, mesmo, durante o próprio carnaval) mas como é uma tradição, vamos usar o mote e refletir um pouco sobre o ano que “começa” agora.
2002, seguindo essa mesma forma de ver o mundo do parágrafo anterior, será um ano “curto”. Teremos no meio a Copa do Mundo e, em outubro, as eleições. Sem falar nos tradicionais feriados, sempre de alguma forma, “esticados” em direção ao fim de semana mais próximo.
Todavia, apesar dessa ilusão reducionista, 2002 deverá ser um ano, do ponto de vista econômico, de recuperação, quando se considera a frustração de expectativas de que foi vítima 2001. Vale a pena recapitular o desempenho projetado dos principais indicadores macroeconômicos para o ano:
1. Inflação
Deve ser menor que a verificada em 2001 e situar-se entre 4% a 6%.
2. Juros
Devem ser iguais ou levemente inferiores aos verificados em 2001 e ainda permanecerão elevados por algum tempo, em torno dos 19% (taxa básica).
3. Câmbio
Deve flutuar mas terminar o ano em patamares inferiores ao máximo alcançado em 2001.
4. Crescimento
Deve ser igual ou superior ao verificado em 2001. As previsões situam-se na casa dos 2,5% a 3%.
5. Balança Comercial
Deve voltar a ser superavitária. Os economistas falam em algo em torno de US$ 4 bilhões.
Na conjuntura atual, a evolução dos principais fatores, vistos a partir do final de 2001 com potencial para afetar o desempenho da economia e modificar o cenário previsto, pode ser caracterizada do seguinte modo (comparar com o exposto no número 358):
1. Crise Energética
Ao que tudo indica, as chuvas ajudaram e o governo deve anunciar para breve (ainda que de forma precipitada, segundo alguns especialistas) o fim do racionamento.
2. Guerra ao Terrorismo
Depois da ação dos EUA no Afeganistão, a impressão que dá é que o poder de fogo do terrorismo foi bastante debilitado. A eterna questão Israel x Palestinos, no entanto, parece longe de alguma resolução.
3. Economia Mundial
A economia dos EUA, talvez a principal locomotiva do crescimento mundial, começa a dar sinais, ainda que débeis, de que pode retomar a trajetória de crescimento interrompida o ano passado.
4. Argentina
Depois de viver “em apenas uma semana”, na expressão do deputado Aloísio Mercadante, o que o Brasil viveu ao longo de 12 anos (moratória, confisco, impeachment presidencial e desvalorização), a Argentina viu o dólar flutuar sem maiores sobressaltos na semana passada e diminuírem um pouco as tensões.
5. Eleição
Com o lançamento oficial do candidato do governo, o quadro eleitoral para a presidência da República ganhou contornos mais nítidos. Embora muita água ainda vá
passar por baixo da ponte da sucessão, o processo segue sem sobressaltos.
Vistos, portanto, a partir da ótica pós-carnaval, os fatores que podem afetar o desempenho da economia em 2002, apresentam uma evolução mais positiva que no final do ano passado. Tomara que permaneçam evoluindo e não surjam imprevistos que possam atrapalhar a retomada de níveis mais elevados de crescimento. O país e todos nós precisamos disso.