Na semana passada a temperatura política chegou no ponto de ebulição, antecipando como deve ser o embate sucessório nos próximos meses. Observado à distância, o rebuliço parece confirmar as palavras do poeta norte-americano.
“Fazer política é a refinada arte de criar problemas, cujas soluções mantenham o povo em suspense.”
Ezra Pound, 1885-1972, poeta norte-americano
Sem entrar no mérito das razões alegadas pelos contendores para adotar as posições que estão sendo adotadas, é preciso considerar que toda essa movimentação só deve contribuir para o aumento do descrédito da política e dos políticos no país.
Do ponto de vista institucional, o país presenciou nos últimos anos muitos avanços como, por exemplo, a modernização da economia, a promulgação da Lei de Responsabilidade Fiscal e o afastamento da política, ainda que de forma temporária em alguns casos, de políticos que ultrapassaram os limites do decoro parlamentar. Todavia, como subproduto dos processos que precederam os expurgos, ficou um disseminado sentimento na opinião pública de que a bandalheira na política é ampla, geral e irrestrita.
“A modernização econômica e administrativa não atingiu a esfera política.”
Denis Rosenfield, professor de filosofia da UFRS
O que é não só lamentável como constitui-se num importante entrave para o avanço da democracia e da própria indispensável justiça social no nosso país. Como pensar nesses avanços imprescindíveis sem confiança na política e nos políticos? Quem irá conduzir e liderar as mudanças?
“…resolver a questão das desigualdades e da exclusão social [depende] essencialmente da valorização da vida pública, da política e da cidadania.”
André Lara Rezende, economista brasileiro
Em um ano eleitoral como o atual é muito importante que o exercício do voto considere essa necessidade de modernização. Só o exercício do voto consciente pode servir do antídoto para os males da política. Herbert de Souza, o Betinho, irmão do Henfil, disse uma frase que ajuda a pensar sobre a questão.
“Quando vou votar, penso na história do candidato, nas suas alianças e programas, mas principalmente na história política dele: o que faz e que partidos, cargos e experiências concretas já teve.”
Herbert de Souza
Qualquer que seja o candidato, independente de ideologias, é fundamental essa checagem sugerida pelo Betinho. A melhora da política se faz votando cada vez melhor, sem perder de vista a necessidade de transcendência e de enobrecimento da política.
“A política é a arte de suscitar esperanças. A autêntica política deve fortalecer esse patrimônio inestimável de uma nação, que é a fé, a crença e a convicção otimista no seu futuro.”
Edson Vaz Musa, ex-presidente da Rhodia do Brasil
Todos esses eventos que estão ocorrendo por conta da sucessão presidencial devem funcionar como oportunidade para se fazer à análise dos candidatos e se preparar o voto consciente. A atenção do eleitor deve ser redobrada porque muita água ainda vai passar debaixo da ponte da sucessão e a velha tradição da política nacional ainda vai se fazer presente em muitos outros episódios.