Na segunda-feira, 11.03, faleceu aos 84 anos o economista norte-americano James Tobin, prêmio Nobel de Economia de 1981, assessor do presidente John F. Kennedy na década de 60. Apesar dos seus predicados acadêmicos, Tobin ficou mundialmente famoso por ter idealizado um imposto sobre operações financeiras internacionais que ficou conhecido com “Taxa Tobin”, defendida, dentre muitos outros, pelo presidente FHC nos fóruns internacionais. Todavia, é a tese central de Tobin sobre escolha de portfólio de investimentos (trabalho que lhe rendeu o Nobel) que nos ajuda aqui a refletir:
“Não ponha todos os ovos na mesma cesta.”
Esse simplório resumo da teoria de Tobin sobre o complexo mercado de ações e investimentos cai como uma luva enquanto diretriz de conduta estratégica.
De fato, toda e qualquer conduta estratégica só é consistente se não for criticamente vulnerável à inviabilização por um evento. Ou seja, se não correr o risco de ser destruída por um acontecimento crítico (a queda da cesta e a quebra de todos os ovos).
Peter L. Bernstein, autor do interessante livro “Desafio dos Deuses – A Fascinante História do Risco” (Editora Campus, Rio de Janeiro), faz uma oportuna consideração sobre a preferência estratégica que os investidores têm pela diversificação.
“Nós diversificamos para ter certeza de que não seremos eliminados. Ou seja, são coisas em que a gente não acredita realmente, mas compra para se proteger do risco de estarmos errados.”
Peter L. Bernstein, consultor norte-americano
Para não sermos eliminados, diversificamos, distribuímos os ovos em cestos diferentes, mesmo que alguns se mostrem, depois, furados. Com essa atitude, a sabedoria estaria em saber escolher os cestos certos.
Isso vale tanto para a vida pessoal, quanto para as decisões empresariais e, mesmo, para a política partidária. Não depender criticamente de um único cliente, por melhor que ele seja, é uma aplicação empresarial, prática e objetiva, desse preceito.
A recente decisão do Partido da Frente Liberal de abandonar o governo e apoiar incondicionalmente a candidatura Roseana Sarney, parece, à primeira vista, uma decisão estratégica equivocada do tipo “todos os ovos” numa cesta que, já no momento mesmo da decisão, aparentava fragilidade.
Analisada no calor da hora, a decisão, de fato, parecia precipitada e equivocada. Em suma, um erro primário. Mas há uma coisa que não batia: como um partido composto por políticos profissionais, longamente testado na escola do poder, poderiam ter entrado numa fria desse tamanho? Cometer um erro elementar desses?
Com o passar de um pouco de tempo, a poeira da decisão começa a assentar e um outro cenário aparece. A candidatura do PSDB, que começa a tomar ares de rolo compressor, está sendo montada com um contorno que exclui o PFL como parceiro preferencial nos moldes assumidos desde o início do período Fernando Henrique.
A candidatura José Serra sinaliza com a disposição de consolidar-se como uma opção mais centro-esquerda que os governos FHC (mais de centro-direita). Essa disposição já havia se manifestado na bem sucedida articulação tucana para eleição das presidências da Câmara e do Senado, com a dupla Aécio Neves – Jader Barbalho, que deixou o PFL a ver navios.
Se for correta essa percepção, reforçada agora pela tentativa do PSDB de fechar a chapa com o PMDB na vice, a decisão do PFL tem que ser contextualizada. A opção por Roseana foi apenas um pretexto para uma saída honrosa e para ganhar forças que serão usadas para reforçar o cacife do partido nas futuras negociações. Ou seja, parece que há outros cestos não percebidos inicialmente.