O mês de maio inaugurou uma nova fase de turbulência na economia do país. Três indicadores evidenciam essa fase: (1) a valorização do dólar; (2) a queda da bolsa; e (3) a subida do risco-país.
Na quinta-feira, 10.05, o dólar chegou ao seu ponto mais alto (R$ 2,72) e a Bolsa de São Paulo ao seu ponto mais baixo desde novembro/2001, quando deu-se o auge dos efeitos combinados do racionamento de energia, dos desdobramento dos atentados terroristas, do desaquecimento da economia dos EUA e da desorganização da economia da Argentina.
Além disso, o risco-país do Brasil (diferença entre os juros pagos por títulos da dívida externa brasileira e os pagos pelos títulos do Tesouro dos EUA) chegou a seu nível mais elevado desde o final de 2001, refletindo a queda de confiança dos investidores na capacidade do país honrar sua dívida no futuro.
O que esteve na base deste início de turbulência foi, sem dúvidas, o fator Eleição. De fato, dos cinco fatores críticos capazes de influenciar o desempenho da economia em 2002 (ver número 366) (Crise Energética, Guerra ao Terrorismo, Economia Mundial, Argentina e Eleição), a Eleição é o que, certamente, mais influenciará agora e continuará influenciando o cenário econômico nos próximos seis meses, no mínimo.
A subida de Lula, candidato de oposição, nas pesquisas e as dificuldades que vem enfrentando Serra, o candidato do governo, foram as causas alegadas pelos analistas para justificar o reinício da turbulência. Todavia, é preciso não esquecer que se há desconfiança sobre a capacidade ou as intenções do futuro piloto, boa parte deve-se a dúvidas sobre as condições do “equipamento” (fundamentos da economia).
Uma prova dessa relativa fragilidade dos fundamentos da economia, que está na base da insegurança do “mercado” sobre o futuro, é que no primeiro debate feito pelos candidatos (na realidade pré-candidatos porque nenhuma foi, ainda, oficializado pelas convenções dos referidos partidos) na sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI), na semana passada em Brasília, houve um intrigante consenso das propostas apresentadas.
Lula, Serra, Ciro e Garotinho, cada qual a seu modo, destacaram os seguintes pontos comuns: (1) controle da inflação; (2) redução da vulnerabilidade externa; (3) reforma tributária; e (4) política industrial ativa. Para atacar esses pontos, terão que enfrentar: (1) a alta dívida interna (54% do PIB); (2) os altos juros (taxa básica de 18,5%); (3) o déficit do balanço de pagamentos (cerca de US$ 20 bilhões em 2002); (4) a alta carga tributária (cerca de 34% do PIB em 2002). São esses problemas que tornam frágeis os fundamentos da economia e, em última análise, tornam o “equipamento” vulnerável a condições adversas e às avaliações dos analistas estrangeiros.
Duas considerações a fazer sobre o futuro próximo. A primeira é a de que muita água ainda vai passar por baixo da ponte da sucessão presidencial. Tanto pela própria natureza volátil da política quanto pelo cenário ainda indefinido das candidaturas (“tudo” ainda pode acontecer), muita coisa vai mudar.
“Política é como nuvem. Você olha, está de um jeito. Torna a olhar minutos depois, está de outro.”
Tancredo Neves
A segunda é sobre o temor do “mercado” acerca de um possível governo de “ruptura” de Luiz Inácio Lula da Silva. Em face das peculiaridades do país, o próximo presidente, independente de quem for, terá que ser uma espécie de “sucessor” de FHC (ver número 372). Só um exemplo ilustrativo: no atual enquadramento político-institucional do país nenhum presidente pode governar sem maioria no Congresso. Se eleito, Lula terá algo em torno de 100 deputados do PT. De onde virão os outros cerca de 200 para a necessária maioria? De alianças, claro. Com quem? Bem, aí já é outra história.