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Um grande alÃvio. Esse foi o sentimento passado por todos os que comentaram o anúncio do fechamento do novo acordo do Brasil com o FMI, o maior da história do Fundo, na semana passada. Inclusive os candidatos a presidente, com exceção apenas de Garotinho, o que tem, no momento, menos chance de ser eleito e, por isso, dá-se ao luxo de condenar, da boca para fora, o acordo.
De fato, diante da inédita escassez de recursos externos que acomete a economia do paÃs, inclusive o crédito privado, e da inescapável incerteza relativa ao resultado das eleições de outubro, esse acordo funciona como uma ponte importante para a transição.
O ideal seria que a economia do paÃs já estivesse no ponto de não precisar de nenhum avalista financeiro internacional para fazer uma transição polÃtica absolutamente normal num regime democrático. Todavia, é preciso ter em mente que a vulnerabilidade externa do paÃs é grande e as condições “ambientais” pioraram muito nos últimos três meses. Sem o aval dado pelo acordo, embora fosse pequeno o risco do paÃs “cair”, era alta a probabilidade de ser obrigado a fazer um “pouso forçado” por falta do “combustÃvel” do crédito (ver a respeito o GH/390).
O acordo foi importante para a transição e, inclusive, para o inÃcio do mandato do próximo presidente (dos US$ 30 bilhões postos à disposição do Brasil, US$ 24 bilhões só serão liberados em 2003). O candidato Lula comparo-o a uma ida ao dentista: é ruim mas, à s vezes, inevitável.
O apoio implÃcito dos candidatos a uma medida necessária conduzida pelo governo que será sucedido ressalta, inclusive, algo muito positivo que é uma faceta de maturidade do processo sucessório em curso. Afinal, o que está em jogo é a governabilidade do paÃs nos próximos anos.
Essa posição politicamente madura é muito promissora porque não há mais espaço no paÃs para nenhum tipo de voluntarismo ou para bravatas cÃvicas de qualquer natureza. Se quisermos passar com um mÃnimo de segurança o perÃodo atual de turbulências e, mais na frente, chegar a um destino seguro, será forçoso trilhar polÃticas econômicas responsáveis e inevitavelmente austeras por muitos anos ainda como alerta, com bastante propriedade, o colunista econômico LuÃs Nassif:
“Se os últimos anos deixaram lições, a mais séria delas é que o paÃs tem que atuar preventivamente. Não poderá mais moldar sua polÃtica econômica confiando na concretização do cenário ideal. A polÃtica econômica tem que ser conservadora. E ser conservadora significa preparar o paÃs para o pior cenário. Se não ocorrer o pior cenário, melhor.”
LuÃs Nassif, Folha de S. Paulo 08.08.2002
E o mais exigente é que isso terá que ser feito em sintonia com desenvolvimento econômico e uma polÃtica social ativa. Ninguém pode esquecer que o Brasil, apesar de ser a 10ª economia mundial, detém o 73º lugar no ranking do Ã?ndice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU.
Para resolver a difÃcil equação cujas variáveis são estabilidade, desenvolvimento e inclusão social, o próximo presidente terá que zelar, de forma obsessiva, pela governabilidade. Num ambiente polÃtico turbulento ou mergulhado em crises internas freqüentes, nenhum chefe do poder executivo, por mais qualificado ou destemido que seja, conseguirá enfrentar a difÃcil situação externa e terminar bem o seu mandato.
Governabilidade no Brasil é sinônimo de capacidade de governar em sintonia com o Congresso. Fernando Henrique Cardoso foi o presidente que, após a redemocratização, mais se empenhou na criação de condições polÃticas para governar. Mesmo assim, apesar da coligação que montou e de sua predisposição pessoal para o diálogo polÃtico, enfrentou crises importantes.
Na escolha do próximo presidente, esse é um aspecto que deve ser observado atentamente pelo eleitor.