Em meio à turbulência, uma semana decisiva para o país

 
Esta semana promete, tanto do ponto de vista político quanto econômico, ser a mais tensa e movimentada dos últimos tempos. É a última da corrida eleitoral para o primeiro turno e se dá em meio a uma forte turbulência econômica que já deixou, na semana passada, surpreendentemente, o real mais desvalorizado que o peso argentino.
Com o candidato Lula, segundo a última pesquisa Datafolha de 29.09.2002, a um ponto percentual de vencer a disputa no primeiro turno, tudo em tese ainda pode acontecer. Desde a renúncia de Ciro, cogitada e estimulada por figuras de proa de sua campanha como Mangabeira Unger e Leonel Brizola, passando pela ultrapassagem de Garotinho na reta final, até o esperado segundo turno Lula x Serra.
As maiores probabilidades são, hoje, pela ordem: (1) Lula no primeiro turno; (2) Lula x Serra no segundo turno; (3) Lula x Garotinho no segundo turno. O que quer que ocorra, todavia, deve se dar por uma margem apertada de votos, o que aumenta a emoção, eleva a importância dos atos finais da campanha (inclusive o debate programado para a quinta-feira dia 03.09 na Rede Globo) e reforça a volatilidade do mercado financeiro, projetando a incerteza para mais além.

“Ou haverá segundo turno e, por extensão novas rodadas de nervosismo, ou Lula estará eleito e serão três meses de eletricidade intensa entre a vitória e a posse.”

Clóvis Rossi, Folha de S. Paulo, 29.09.2002

No presente, a “eletricidade” do mercado financeiro está sendo potencializada, além da incerteza política e da escassez de crédito externo, pela especulação de grandes investidores internos sobre o resgate de títulos cambiais da dívida pública e os vencimentos do mercado futuro do dólar que são liquidados com base na cotação da moeda estrangeira no último dia do mês.
Portanto, além da emoção política, é de se esperar que a semana continue a nos reservar, também, emoções econômicas fortes com a provável repercussão sobre a cotação do dólar. Não está fora de cogitação o rompimento da barreira psicológica dos R$ 4,00.
Dez entre dez analistas econômicos afirmam com convicção que essa cotação é completamente despropositada e a taxa de equilíbrio do dólar deve estar situada abaixo dos R$ 3,00. Carlos Langoni, ex-presidente do Banco Central, chegou inclusive a afirmar em entrevista no Jornal da Dez da Globonews dia 29.09, que o patamar “correto” do risco Brasil é 700 pontos, admitindo-se uma “banda” até 1.000 pontos. Acima de 2.000 pontos, como tem estado nos últimos dias, é uma anormalidade total que tende a corrigir-se com o tempo.
O problema todo é que essa volatilidade, apesar de não se constituir em si numa surpresa, dada a “natural” instabilidade pré e pós-eleitoral, está se dando, todavia, sobre um patamar já bastante alavancado. Mal comparando, é como se um esperado vento forte coincidisse, mais forte do que o inicialmente previsto, com uma maré muito alta. O resultado são ondas gigantes e uma ressaca violenta.
É razoável esperar que, com o passar do tempo, a normalidade se restabeleça e os estragos possam ser reparados. Pelo sim e pelo não, todavia, é bom atentar para as palavras do economista norte-americano Jeffrey Sachs:

“Como advertiu o economista britânico John Maynard Keynes 75 anos atrás, ‘os mercados podem se manter irracionais por mais tempo do que você consegue se manter solvente’. Em outras palavras, mesmo que você saiba que o dólar um dia cairá, pode falir antes que prove que está certo. Basta que as pessoas continuem a acreditar que o dólar subirá.”

Jeffrey Sachs, Folha de S. Paulo, 30.06.2002

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