Aquele que tem dois senhores é um homem livre

 
Desde a mais remota antigüidade, há um princípio da administração de pessoas que permanece imutável. Trata-se da unidade de comando.
Começando pelas estepes e savanas da �frica pré-histórica, onde se deu a aurora da humanidade, transitando pelos grupos nômades de caçadores, pelas primeiras civilizações, pelas mais esclarecedoras passagens bíblicas, pelas progressiva e historicamente mais complexas organizações religiosas, militares e administrativas, até os nossos dias, em todas as situações conhecidas, sempre que a unidade de comando foi quebrada, sobreveio a desordem, a anarquia, o caos.
Isso, independente do fato de o regime de comando ser mais ou menos autoritário ou ditatorial. Unidade de comando não tem a ver com regime de governo mas, sim, com o exercício da autoridade, com o respeito à indispensável hierarquia.
De tempos em tempos circulam idéias que intentam ir de encontro a esse princípio básico. Sob o argumento de uma pretensa “democraciaâ€?, de uma hipotética “liberdadeâ€? ou qualquer outro conceito deturpado do gênero, advogam a abolição ou a descaracterização do princípio da unidade de comando, em favor de algo como “funcionamento espontâneoâ€? ou “autogestãoâ€? de grupos de trabalho. Como se democracia ou liberdade, em suas acepções corretas, não fossem estreitamente vinculadas a autoridade e hierarquia. Como se fosse possível a existência de um grupo, qualquer que seja ele, sem liderança una.
Ainda que temporária ou exercida em rodízio num grupo de trabalho, o que é perfeitamente possível, a liderança tem que ser unitária e definida com clareza. Nem numa mera reunião de condomínio pode-se dar ao luxo de deixar indefinida a coordenação…
Peter Drucker, o longevo e impressionantemente lúcido mestre da administração, faz uma afirmação muito bem posta sobre o tema.

“Também é um princípio geral válido para organizações de todos os tipos que qualquer membro da organização deve se submeter a apenas um ‘senhor’. É sábio o velho provérbio da lei romana segundo o qual um escravo que tem três senhores é um homem livre. É um princípio muito antigo das relações humanas que ninguém deve ser sujeito a um conflito de lealdades  e ter mais de um senhor gera exatamente esse tipo de conflito.”

Peter F. Drucker, guru dos gurus da Administração

Do alto de sua sabedoria, o velho mestre é até complacente. Respaldado pelo provérbio romano, fala em três senhores. A prática cotidiana tem mostrado que bastam apenas dois e o estrago já está feito. Com dois líderes, ele fatalmente colocará um contra o outro e fará o que melhor lhe convier.
Evidentemente que esse princípio milenar, dada a complexidade da realidade organizacional própria dos nossos atribulados dias, pode e deve ser flexibilizado. É possível e até desejável que, em muitos casos, as pessoas tenham mais de um ou, até, vários coordenadores para atividades diversas dentro da organização. O fundamental é que, sempre, para determinada tarefa ou atividade, a coordenação e o “comandoâ€? sejam únicos e perfeitamente definidos.
Todavia, apesar da aparente obviedade deste princípio, é simplesmente impressionante a quantidade de situações observadas no dia-a-dia das organizações em que ele é solenemente desconsiderado. O resultado, quando isso acontece é, sempre, desvio dos interesses da organização em proveito dos interesses individuais.
Esse princípio tão importante quanto antigo é uma prova evidente de que a gestão empresarial vale-se bem de conceitos simples mas eficazes, em detrimento de novidades nem sempre adequadas e modismos que são, muitas vezes, sem aderência à realidade organizacional.

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