Após uma semana em que os principais indicadores econômicos mostraram surpreendente performance positiva no Brasil, o mundo se vê diante de um grave “momento da verdade”, com a iminência do ataque anglo-americano ao Iraque.
De fato, contrariando as expectativas dominantes, tanto os indicadores de inflação, quanto o dólar, a bolsa e o risco-país, tiveram sensíveis melhoras na semana passada. A inflação, depois de um longo e preocupante período de ascensão, começou a indicar desaceleração. O dólar baixou para a casa dos R$ 3,40, o que não se via há quase dois meses. A bolsa aproximou-se dos 11.000 pontos, o que também não se via há algum tempo. E, finalmente mas não menos importante, o risco-país atingiu o nível dos 1.000 pontos, o mais baixo em vários e vários meses.
Em parte, essa melhora reflete a situação real da economia que, embora “inspire cuidados”, está bem longe do quadro negro pintado pela histeria da chamada comunidade financeira internacional, a partir de meados do ano passado, quando configurou-se como bem possível a eleição de um governo de oposição no país.
Sem a guerra, seria bastante provável que esse quadro de melhora pudesse firmar-se e, com o suporte positivo do extraordinário ajuste externo iniciado pelo governo anterior no segundo semestre do ano passado, propiciar as condições necessárias e perseguidas pelo governo Lula para a retomada do desenvolvimento sustentado. Com a guerra, é difícil prever o que pode acontecer mas, certamente, coisa boa não será.
A julgar pela postura de George W. Bush ao final da reunião de cúpula ocorrida no arquipélago dos Açores no fim de semana passado, são bastante remotas as chances de não ataque das forças aliadas da Inglaterra e dos EUA ao Iraque.
Os analistas das conseqüências econômicas dessa guerra são praticamente unânimes na previsão de que o conflito tende a retardar a retomada do crescimento dos EUA, da Europa e do Japão, em razão do aumento no preço do petróleo e da conseguinte inibição do consumo nos países ricos. Além disso, a guerra necessariamente elevará o déficit orçamentário norte-americano.
A temerária postura diplomática dos EUA de invadirem o Iraque a qualquer preço, passando por cima da ONU e das resoluções do seu Conselho de Segurança, além do sério risco de desmoralização dos mecanismos multilaterais construídos após a Segunda Guerra, tem como conseqüência a impossibilidade de divisão dos custos dessa iniciativa com os aliados. Por uma razão muito simples: além da Inglaterra, nenhum outro país tem mostrado disposição de se associar nessa empreitada nem, muito menos, rachar a conta.
Resultado: mais déficit no orçamento dos EUA, já bastante combalido do lado das receitas pelo corte de impostos promovido pelo governo Bush. Para 2003, sem contar os custos da guerra, o orçamento norte-americano já projeta um déficit de US$ 340 bilhões (metade do PIB brasileiro), quase U$ 1 bilhão por dia. Déficit de um orçamento desequilibrado produz ou inflação ou aumento da dívida pública e ambos são sinônimos de juros altos.
Portanto, a guerra pode muito bem servir de estopim para a interrupção da política de juros baixos tocada pelo FED (o Banco Central dos EUA). Se isso vier a acontecer, o sofrimento dos chamados países emergentes, dentre eles particularmente o Brasil, será redobrado. Além de queda, coice: petróleo caro, recessão mundial (com conseqüente dificuldade nas exportações) e fuga de capitais (atraídos pelos juros dos títulos do Tesouro dos EUA, considerada a aplicação mais segura do mundo mas, hoje, por conta dos juros do FED, no nível mais baixo desde a década de 70).
Torçamos para que esse cenário pessimista não se materialize e para que a melhora recente do quadro econômico não seja, apenas, uma janela de tempo bom antes do início de mais uma grande tempestade externa.