Como enfrentar aresistência às mudanças


Neste último número da pequena trilogia do Gestão Hoje sobre mudanças organizacionais (ver os dois anteriores, 430 e 431), o destaque será para como enfrentar as resistências que sempre aparecem, mesmo quando a mudança é questão de sobrevivência.
A primeira consideração a fazer é a de que a vida é resultado da resistência da ordem sobre a desordem. Uma vitória da resistência, portanto. Quem ou o quê existe, resiste para poder continuar existindo. E é, justamente aí, que está o paradoxo: diante da premência da mudança, além de determinado ponto, a resistência deixa de ser requisito de sobrevivência para transformar-se em prenúncio de aniqulilamento.

“Não é a mais forte das espécies que sobrevive, nem a mais inteligente: é aquela que é mais adaptável à mudança.â€?

Charles Darwin, 1809-1882, naturalista inglês

Nas organizações, então, a resistência é um fenômeno que vai muito além do limite do benéfico para, cotidianamente, adentrar o campo do risco à sobrevivência.

“Empresários fracassam em seus negócios porque gostam tanto dos velhos métodos que não conseguem mudar.â€?

Henry Ford, 1863-1947, empresário norte-americano

Se, então, resistir até determinado limite é não só benéfico como necessário e, por outro lado, passar do ponto é não só maléfico como mortal, de que forma estabelecer a dose adequada de mudança e de combate à resistência nociva? Não é, evidentemente, uma pergunta fácil de responder mas há caminhos possíveis.
O ex-ministro da Fazenda Rubem Ricúpero, atual secretário de comércio da ONU, a respeito da globalização, disse ser ela como o colesterol, existe a boa e a má. O mesmo se pode dizer do assunto em questão: existe a boa e a má resistência. Uma se deve compreender e apoiar, a outra, identificar e combater.
A primeira atitude a adotar para fazer a separação necessária é a da postura vigilante. Em outras palavras: não se acomodar nunca, por melhor que pareça a situação e por maior que seja o sucesso inicial. A atitude vigilante (sempre alerta!) previne a acomodação e combate o enraizamento da má resistência.
A outra atitude recomendável é a adoção do princípio da progressão com persistência. Se bem monitoradas, as mudanças necessárias raramente precisam ser bruscas. São, na maioria das vezes, resultado de avanços progressivos, nunca de solavancos repentinos. Devem ser mais objeto de cultivo do que de imposição, como alerta Peter Senge, autor do livro “A Quinta Disciplina”, um dos gurus do “aprendizado organizacional”:

“Insistimos em tentar impor mudanças, quando o que precisamos é cultivar mudanças.â€?

Peter Senge, consultor e escritor norte-americano

Não é por acaso que as resistências mais poderosas às mudanças necessárias surgem diante das imposições bruscas. É perfeitamente natural se esperar de quem estava no seu “lugar quentinho”, grande resistência se tiver que sair do seu estado de conforto.
Daí, a importância de manter sempre o estado de alerta e não deixar que as pessoas se acomodem, submetendo a empresa a um processo de progressão contínua das mudanças. E, por fim, assegurar um espaço para falar das dificuldades, instalando um ambiente propício às mudanças, onde a acomodação, principal estimuladora da má resistência, não prospere.
Ao contrário do que se possa a princípio pensar, como já provaram James Collins e Jerry Porras em seu famoso livro, as empresas feitas para durar não são locais onde impera a “tranqüilidade”. São locais onde se está sempre alerta para superação da má resistência às mudanças necessárias.

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