O recente episódio da entrevista com falsos integrantes do PCC no Programa Domingo Legal do apresentador Gugu Liberato dá o que pensar sobre a questão do erro, do engano e da delegação inadequada.
Por que uma pessoa com tantos anos de estrada e a experiência que tem o apresentador cai numa esparrela dessa magnitude? Risco não calculado? Descuido? Certeza de impunidade? Desconhecimento?
Qualquer que seja a resposta, nenhuma se justifica do ponto de vista gerencial. Um gerente deve, sempre, calcular os riscos das decisões que toma; não pode descuidar a um ponto tão grave; pensar que não será punido é um delírio perigoso num ambiente concorrido como o dos programas do domingo à tarde na TV aberta; e desconhecimento do que está havendo é um atestado exemplar de incapacidade gerencial.
Seja o que for que aconteceu, uma coisa é certa: Gugu esqueceu de um ensinamento muito importante de Michael Klein, filho do fundador das Casas Bahia e seu atual executivo-chefe:
“Administrar é descobrir os erros a tempo.”
Michael Klein, revista Forbes, 31.03.2003
Por conta de não ter feito isso, o programa que, meses atrás, era líder absoluto de audiência no domingo, batendo, inclusive, a forte concorrência do programa do Faustão na TV Globo, teve um sério baque na forma de perda de apoio publicitário. Vários patrocinadores bateram em retirada, deixando um buraco estimado em R$ 4,8 milhões, só no dia em que o programa não foi ao ar, impedido pela Justiça, no primeiro caso de censura prévia de um programa de TV após a promulgação da Constituição de 1988.
À polícia, Gugu alegou que não sabia da farsa e que a preparação da entrevista fora de responsabilidade exclusiva da produção. Como desculpa para se livrar da responsabilidade criminal, essa alegação pode ter sentido. Como atitude gerencial, não.
O ato de delegar responsabilidades, sempre indispensável do ponto de vista da gestão, não exime o delegante das responsabilidades pelos resultados. Pelo contrário.
Iain Maitland, no livro “Administre seu Tempo” (Editora Nobel, 1995, São Paulo), faz uma observação pertinente sobre a delegação e a responsabilidade de quem delega:
“Aquele que recebe o poder delegado tem autoridade suficiente para concluir o trabalho de modo satisfatório, mas aquele que delega fica com a total responsabilidade pelo seu êxito ou fracasso.”
Iain Maitland
Já Roy Alexander, no bom livro “Guia para a Administração do Tempo” (Editora Campus, 1994, Rio de Janeiro), vai mais além e faz uma instrutiva observação sobre delegação que merece ser observada:
“Avalie o risco da delegação perguntando-se: qual a pior coisa que pode acontecer de errado?”
Roy Alexander
Por certo Gugu não fez isso e ficou a mercê do que lhe foi preparado por incompetentes ou irresponsáveis e, como gerente, fracassou. A alternativa, possível também, de ter conhecido e aprovado tudo, não merece comentários.
O conceito de que “só os paranóicos sobrevivem”, desenvolvido em livro pelo ex-presidente da Intel, Andy Grove (paranóicos, no “bom” sentido, como o descrito no número 119), serve para o caso em questão. Delegar significa repassar a tarefa mas não se despreocupar com os resultados nem com suas conseqüências. Significa acompanhar os pontos críticos que podem resultar em dano irreparável, como no caso do apresentador do SBT.