Há, exatamente, um ano Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito presidente do Brasil, depois de uma acirrada campanha na qual as condições da combalida economia do país se deterioraram bastante.
Hoje, cumpridos 20% do mandato e em marcha batida para a conclusão do primeiro quarto da gestão, já é possível identificar algumas conquistas e algumas tendências significativas.
A principal conquista foi ter evitado, com firmeza, o retorno da inflação e conseguido manter, de forma até mais dura que o governo anterior, o aperto fiscal, neste momento, infelizmente, necessário à estabilidade da economia. Além disso, merece destaque a conquista de uma inicialmente insuspeitada maioria no Congresso, como bem sintetiza o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT/SP):
“Do ponto de vista econômico, havia necessidade de o governo tomar medidas amargas, para ter o controle da economia. Outra coisa positiva é a governabilidade (…) Muita gente não acreditava que teríamos maioria no Congresso e conseguiríamos tranqüilidade para governar. Conseguimos. (…) mas a área social é a pior que tem.”
João Paulo Cunha, Jornal do Brasil, 26.10.2003
É, justamente, essa síntese dos principais sucessos (econômicos e políticos) e do fracasso (social) do começo de governo que aponta para uma tendência que se mostra preocupante porque comprometedora da sua capacidade executiva, no médio prazo.
Tanto o sucesso econômico (diga-se de passagem, de curto prazo, porque o esperado por todos é a retomada do crescimento prometida, apenas, para começar no ano que vem) e o sucesso político (a conquista da governabilidade), quanto o fracasso social, são faces da mesma moeda. São decorrentes da forma como está distribuído o poder no governo Lula: num campo, um pequeno grupo coeso que decide e dá as cartas, de fato, e, noutro, um bando de ministros atabalhoados, batendo cabeças uns com os outros, sem verbas e sem poder efetivo.
Isso, agravado pelo fato de que a montagem do governo obedeceu a estanhos critérios de “premiação” por méritos partidários ou perdas eleitorais, além da previsível composição com a base aliada, o que formou uma massa numerosa, heterogênea e descoordenada.
“Foi um exagero desnecessário. Nunca me passou pela cabeça que o PT criaria 35 ministérios. Ele se equivocou ao nomear para esse ministério companheiros ilustres, (…) mas que perderam as eleições. Foi como se desse a eles um prêmio de consolação.”
Pedro Simon, senador PMDB/RS, O Globo, 25.10.2003
É impressionante, quando se faz uma retrospectiva, como esses erros de condução se assemelham aos cometidos por FHC no início da sua primeira gestão (coordenação) e da segunda (excesso de ministros). Basta dar uma olhada nos números 3 e 14 (“O Desafio da Coordenação” e ” A Crise é de Coordenação”) e 203 (“34 Ministros é Demais”) do Gestão Hoje para lembrar.
Evidências de descoordenação, misturada com ingenuidade e deslumbramento com a “conquista” do poder são o que a imprensa tem chamado de “deslizes éticos” e que têm, segundo os analistas, inclusive, contribuído para as primeiras quedas na aprovação do governo: apropriação indébitas de diárias e passagens (Benedita da Silva e Agnelo Queiroz) e a contratação, para prestação de serviços, da ex-mulher e da atual, que abateu do cargo o criativo secretário nacional de Segurança Pública Luiz Eduardo Soares.
Disse Karl Marx que a história só se repete como farsa. Esperemos que não seja o caso, nem de repetição, nem, muito mesmos, de farsa. Não temos tempo para isso.