A frase de Peter Drucker nos remete para a finalidade do planejamento e do seu suporte que é a construção de cenários (conforme exposto nos dois números anteriores, 465 e 466). Ou seja, focaliza a ação concreta de fazer com que as coisas sonhadas e projetadas no presente aconteçam no futuro.
“Não há nada como o sonho para criar o futuro. Utopia hoje, carne e osso amanhã.”
Victor Hugo, 1802-1885, escritor francês
A dimensão do sonho, inclusive, no que diz respeito ao planejamento estratégico, é tão importante quanto não assumida em sua adequada dimensão. Ou tende a ser subdimensionada, mediocrizando o resultado do planejamento pela tirania da realidade apenas possível ou, por outro lado, a ser superdimensionada pelo delírio da impossibilidade, “detonando” o resultado do planejamento pelo excesso de pretensão. Ambas atitudes são, ao que parece, uma reação, ou tímida ou delirante, à incógnita que para nós o futuro representa.
“É por isso que somos obcecados pelo futuro. Temos medo dele.”
Clemente Nóbrega, físico e consultor brasileiro
Na sua justa medida, porém, o sonho possível nos leva para além do medo, para o campo da realização desafiante, da possibilidade de construir algo que vá além da mesmice ou da mediocridade do apenas provável, conforme a citação do polêmico político, jornalista e editor, depois de cassado pelo regime militar de 1964, Carlos Lacerda.
“O futuro não é o que a gente teme. O futuro é aquilo que a gente ousa.”
Carlos Lacerda, 1914-1977
A dimensão do sonho possível e desafiante é tão importante que, quando suficientemente consistente, transforma-se naquilo que o compositor Gonzaguinha conseguiu expressar de forma muito feliz em verso como sendo “a fé no que virá” e chega a suplantar, com sua força, o grande poder de moldagem que têm as certezas do passado.
“Vivemos mais dos sonhos do futuro do que dos planos do passado.”
Thomas Jefferson, 1743-1826, presidente dos EUA
A força do passado reside, justamente, em ser algo consolidado pelo qual passamos, julgando conhecer pela experiência e, portanto, poder reaplicar com segurança. Um tipo de engano muito comum nos processos de planejamento.
“Não devemos planejar o futuro pelas lições do passado. Nossa experiência humana é repetição e não sabedoria.”
Edmund Burke, 1729-1797, filósofo irlandês
Hyrum Smith, autor do livro “The 10 Natural Laws of Successful Time and Life Management” (New York, Warner Books, 1994), citado por Jaime Wagner em “A Arte de Planejar o Tempo” (Literalis Editora, Porto Alegre, 2003), faz uma interessante analogia ao dizer que a linha da vida é feita de concreto.
“O futuro é concreto mole, moldado pelos sonhos e desejos. O passado é concreto endurecido, onde estão inscritas as realizações. O problema é que a marca do hoje não cessa de avançar, solidificando, no passado, aquilo que se está fazendo agora em função de um desejo ou compromisso anterior.”
Jaime Wagner, consultor gaúcho
Para que o concreto endureça moldando a melhor estrutura possível, é essencial ter pensado no futuro de forma conseqüente (ter construído bons cenários) e ter feito um planejamento consistente (ter montado uma estratégia de qualidade), tudo temperado por uma dose generosa de sonho possível.
“A MELHOR FORMA DE PREVER O FUTURO É CRIÁ-LO” Essa frase não é de Drucker mas de Abraham Lincoln.