"Para o possível, não preciso de você;preciso de você para fazer o impossível"

 
Quarta-feira, fim de tarde. O proprietário da loja que estava sendo reformada chega na obra e encontra o pintor dando um retoque na massa do teto dos fundos e trava com ele o seguinte diálogo:
– Por que a pintura da frente da loja ainda não foi iniciada? Desse jeito vai ficar tudo por fazer em cima da hora para a inauguração de sexta à noite.
– Não comecei a pintura porque o marceneiro ainda está terminando o trabalho dele lá. E foi até bom o senhor tocar no assunto porque não vai dar tempo de terminar essa semana, não.
– Como não vai dar tempo? Os convites já foram entregues. Não há possibilidade de a inauguração não ser sexta. Vou, agora mesmo, pedir ao marceneiro para desocupar o ambiente para você ir para lá.
– Agora não dá mais, o expediente já está terminando…
– E por que você não faz hora extra?
– Não vai dar. O pessoal já largou… Mas como o senhor está pedindo, vou ver o que é possível.
– Não, meu amigo. Para ver o possível, eu não preciso de você. Eu preciso de você para fazer o impossível. Caso contrário, vou procurar outra solução. Portanto, me diga: o que você precisa para garantir a conclusão da pintura a tempo?
Esse diálogo, verídico, chama a atenção para um aspecto pouco considerado nas relações profissionais. O profissional que, de fato, faz a diferença é aquele que consegue fazer as coisas de um modo que o não profissional não consegue. Sob esse ponto de vista, portanto, é aquele que consegue fazer o “impossível”.
Quem não observa isso, tende a burocratizar a atividade profissional até um ponto em que a sua vantagem competitiva (fazer o “Impossível”) desaparece.
Inicialmente, talvez pela necessidade de expressão de um talento inato que, depois, virá a se aperfeiçoar numa profissão que se distingue da média, é comum que a pessoa nem se dê conta de que começa a fazer algo único.
“Não sabendo que era impossível, ele foi lá e fez.”
Jean Cocteau, 1889-1963, escritor francês
Depois que se firma, geralmente, o que acontece é que, por conta da rotina, o profissional que faz a diferença (afinal, é praticamente impossível alguém se firmar num mercado competitivo se não for capaz de fazer coisas consideradas impossíveis de serem feitas por pessoas “normais”) deixa de perceber, exatamente, qual é o ponto em que os outros não o podem imitar. Daí, para perder o seu diferencial é um pulo.
Foi nesse erro que incorreu o pintor quando disse que “ia fazer o possível” e provocou a reação do contratante ao dizer que, para o “possível”, não precisava dele. Ele deve ser sido contratado porque foi recomendado por alguém que gostou do seu trabalho e, certamente, achou-se suficientemente seguro para desconsiderar uma necessidade premente: a inauguração com data e hora marcadas.
A chave do problema em questão está na acomodação. Em achar que “uma vez flamengo, sempre flamengo”. Isso pode funcionar para o futebol, não para a atuação profissional, onde competitividade não rima com acomodação.
“Alcançar a perfeição é impossível. Aproximar-se cada vez mais dela, não.”
Ayrton Senna, 1960-1994, piloto de F1 Brasileiro

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