A morte de Leonel de Moura Brizola na semana passada encerra um longo ciclo da história política nacional. Como bem destaca a revista Veja desta semana, com ele,
“… morreram três ismos que convulsionaram a história brasileira: o caudilhismo, o populismo, o nacionalismo.”
Mario Sabino, revista Veja, 30.06.2004
Elio Gaspari, em sua coluna de 23.06.2003, chega, mesmo, a dizer que com Brizola acaba-se o século 20 no Brasil, assim como “o século 19 brasileiro terminou em 1891, com a morte de D. Pedro 2°…”
“… Brizola foi o último personagem da história de uma geração que viveu paixões e antagonismos a um só tempo insuperáveis e inúteis. Noves fora Juscelino Kubitschek, com seu enorme sorriso e sua fé no progresso, os principais personagens desse tempo escreveram páginas de rancores e ódios, para nada.”
Elio Gaspari, Folha de S. Paulo, 23.06.2004
E Brizola foi um dos principais protagonistas de escaramuças que vão desde a famosa “cadeia da legalidade”, formada por ele quando governador do Rio Grande do Sul, após a renúncia de Jânio Quadros, para garantir a posse do seu cunhado João Goulard, passando pela resistência ao golpe de 64, até uma fracassada tentativa de luta armada (Caparaó), apoiada por Cuba, com o objetivo de tomar o governo pela força.
Todavia, sua principal contribuição para a história do país não foi a coragem com que protagonizou os diversos incidentes políticos em que se envolveu. Nem mesmo foi a famosa argúcia que exercitou infinitas vezes em episódios menores, muitos deles anedóticos, em que se envolveu ou até provocou. Sua principal contribuição para a história do país deu-se no campo da educação.
“… Brizola carregou a bandeira da educação de nossas crianças como a cruzada de sua vida .”
Cristovam Buarque, Jornal do Commercio, 27.06.2004
Até hoje, segundo a palavra abalizada de ex-ministro da Educação, “o Rio Grande do Sul apresenta os melhores índices educacionais de todo o Brasil. Há muitas razões para isso, mas sem dúvida foram fundamentais as ações daquele prefeito e governador que, 50 anos atrás, deu prioridade às escolas, e investiu no futuro por meio da educação das crianças do seu estado.”
Essa contribuição no campo da educação, no entanto, foi mais conceitual do que, propriamente, física, apesar de ter executado a façanha de construir mais de 500 Cieps, os famosos “Brizolões” durante seus dois governos no estado do Rio de Janeiro.
Instrumentalizado pelo suporte intelectual do misto de genial/apaixonado/visionário/realizador Darcy Ribeiro, Brizola provou cabalmente que a educação básica de boa qualidade e em tempo integral é não só indispensável para a formação das crianças, sobretudo as mais carentes, como possível e realizável.
“Foi, principalmente, um combatente pelas crianças, nas quais ele via o futuro ser construído nas escolas. O Brasil não vai esquecê-lo.”
Cristovam Buarque
Não só não vai esquecê-lo como, até, minimizará alguns pecados graves de sua trajetória política como a insuficiente firmeza com que tratou a contravenção e o tráfico que marcaram seus mandatos à frente do poder Executivo do Rio de Janeiro e contribuíram para o agravamento, hoje gritante, da segurança no estado.