Na última quinta-feira, 1º. de julho, o Plano Real completou 10 anos de lançado pelo então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso. Foi a sétima tentativa de combate estruturado à inflação alta, crônica e crescente que acometia o Brasil desde meados da década de 1970.
Ao contrário dos demais, cuja série foi inaugurada pelo malfadado Plano Cruzado, em 1986, o Plano Real obteve um êxito surpreendente.
“Por meio de uma transição engenhosa de moeda velha para nova, o plano de Fernando Henrique (…) estipulou que um real valeria um dólar. Isso tornou as importações muito baratas da noite para o dia, forçando os preços internos a cair também. Era uma maneira de derrubar a inflação por meio das próprias leis do mercado, não contra elas.”
Otávio Frias Filho, Folha de S. Paulo, 01.07.2004
A inflação que havia chegado a 5.000% ao ano, 12 meses antes do real, caiu vertiginosamente e hoje anda na casa dos 7% ao ano.
“Dez anos é uma extraordinária marca, mas não vamos esquecer que no fim do terceiro ano a inflação já estava perto de zero, ou seja, o plano de estabilização, estritamente falando, já tinha terminado.”
Gustavo Franco, economista, Veja, 07.07.2004
Essa observação feita por Gustavo Franco, um dos formuladores do Real e, depois, presidente do Banco Central, é fundamental para que se possa dar a justa perspectiva ao plano e considerar adequadamente a sua importância para a economia brasileira contemporânea. Sem isso, seus méritos tendem a ser subdimencionados e os defeitos que lhe são atribuídos acabam, pelo contrário, sendo superdimensionados, dificultando uma análise isenta.
É comum, nas análises feitas, que se atribua ao Plano Real a responsabilidade pelo baixo crescimento verificado pela economia brasileira no período de sua “vigência”.
“O Real não era um programa de crescimento, mas de estabilização. Os pais do Real não tinham outra especialidade que não o do combate à inflação inercial.”
Luis Nassif, Folha de S. Paulo, 02.07.2004
Na realidade, além de não ter sido pensado como programa de crescimento, o Plano Real, na prática, acabou quando a inflação caiu a níveis “civilizados”. Os problemas que lhe sucederam só aconteceram porque ele foi “esticado” de forma indevida.
“Infelizmente, o programa de combate à inflação foi conduzido sem a devida atenção aos seus impactos sobre a posição internacional do país. A política cambial foi um desastre completo e acabado. A longa e persistente sobrevalorização cambial do período 1994-1998 produziu estragos que até hoje não acabamos de digerir.”
Paulo Nogueira Batista Jr., FSP, 01.07.2004
Não foi propriamente o plano mas a má administração do seu principal mecanismo, a chamada na época, “âncora” cambial, utilizada muito além da conta e jamais completamente substituída pela “âncora” fiscal, que terminou por criar sérios entraves à indispensável retomada do crescimento econômico sustentado. No próximo número veremos o porquê.