Desconfie de quem "pensa" e fala"complexo" demais e age de menos

 
Sim, o mundo é complexo. A vida é supercomplexa. A mente humana é hipercomplexa (existem mais neurônios no cérebro, por exemplo, do que estrelas na Via Láctea e a quantidade de ligações entre eles, as chamadas sinapses que constituem a base do nosso pensamento, chegam aos trilhões). Mas a gestão empresarial e suas ações precisam ser, para terem conseqüência e eficácia, objetivas e simples. Essa contradição se traduz muito bem no binômio (ver a propósito o número 312):
“Complexidade do pensamento e simplicidade da ação.”
Ocorre que a complexidade é um tema que tornou-se filosoficamente atual. A chamada Ciência da Complexidade tem, hoje em dia, pensadores sérios do porte, por exemplo, do sociólogo e filósofo francês Edgar Morin, que se tem dedicado, há muitos anos, ao estudo do assunto, inclusive com implicações para a Ciência das Organizações.
“Ciência da Complexidade, uma nova disciplina que estuda a linha fina e cambiável que separa o caos da ordem e suas aplicações na administração.”
Marcelo Cherto, consultor paulista
Acontece, porém, que a complexidade tem servido, na atualidade, como um mais novo e sofisticado biombo usado por aquelas conhecidas figuras que “fazem número” nas organizações, sejam funcionários ou prestadores de serviço contratados. Vulgarmente falando, daqueles que estão “enrolando” e usam a conversa difícil para esconder que não sabem o que fazer.
Uma dica: desconfie de quem fala demais e age de menos, principalmente daqueles que usam o falatório travestindo-o de “pensamento complexo”. Geralmente é para lançar uma cortina de fumaça sobre suas verdadeiras intenções. Não por acaso, o falso ético (ver número anterior 496) é mestre nesse tipo de expediente.
“A característica de um homem de bom senso é falar pouco e dizer sempre coisas razoáveis.”
Josep A. Toussaint Dinouart, abade francês, em 1771
Por isso, não se pode ser condescendente com a “complexidade” despropositada ou mal intencionada. Se não entender o que está sendo dito, não se envergonhe de perguntar. Jack Trout no bom livro “O Poder da Simplicidade” (Makron Books) é enfático sobre a questão.
“Nunca tenha medo de dizer ‘não entendi’. É preciso ser intolerante com a arrogância intelectual.”
Jack Trout, publicitário norte-americano
A melhor forma de lidar com essas criaturas organizacionalmente perniciosas é exigir que transformem a sua sofisticação intelectual, na maioria das vezes apenas pretensiosa ou confusa (abordar de forma conseqüente a complexidade é tarefa que exige competência e é, portanto, para poucos), em algo objetivo, resumido e prático para que tenha desdobramentos concretos para a gestão. Jack Trout cita no seu livro uma frase de um executivo de uma empresa norte-americana:
“Se uma idéia não pode ser expressa em uma página, ela (ou seu autor) provavelmente está com defeito.”
Arte Ciocca, executivo da Wine Group
Se não tiver oportunidade ou poder para solicitar algo parecido, adote a ação prudente já recomendada: desconfie do fulano. A atitude dele pode denotar pouca competência, intenção equivocada ou mal entendimento dos problemas. Nos três casos, com efeitos nocivos para a boa gestão.
“Você nunca deve confiar numa pessoa que não consiga entender.”
Jack Trout, publicitário norte-americano

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