A vitória tem muitos paismas a derrota, por sua vez, é órfã

 
Se, já no rescaldo do primeiro turno, o espírito da frase do título pôde ser observado na argumentação de alguns responsáveis por campanhas derrotadas pelo Brasil afora, agora, depois da perda das prefeituras de São Paulo e Porto Alegre no segundo turno, pode ser visto claramente pairando sobre o debate interno do PT.
Embora tenha mais do que duplicado o número de prefeituras conquistadas em relação à eleição de 2000, a perda de importantes capitais para o PSDB, deixou um gosto amargo na boca do PT que já começa a perceber implicações relevantes para a eleição presidencial de 2006.

“O PSDB recebeu um mandato renovado e fortalecido para liderar a oposição. Com essas vitórias – São Paulo, Curitiba e Florianópolis – e a votação de conjunto, o PSDB restabelece uma dinâmica possível de uma frente de centro-esquerda que apareceu nitidamente fraca nas últimas eleições presidenciais.”

Juarez Guimarães, cientista político da UFMG

Ainda mais porque a “derrota” do PT deu-se num contexto de desprestígio junto à classe média que pareceu votar contra o partido, ao que tudo indica, como uma espécie de desencanto pelo não cumprimento das promessas eleitorais de mudança do país para melhor.

“… não conseguimos manter aqueles contingentes das classes médias que estavam nos apoiando, com encantamento político pelas propostas do PT.”

Tarso Genro, Ministro da Educação

Com essa perda de apoio, cresce, ainda mais, a importância do papel jogado pela retomada firme do crescimento econômico na eleição presidencial de 2006. Sem que fique evidente, ao longo do próximo ano, que a economia entrou numa rota inequívoca de crescimento sustentado, as chances de reeleição do presidente diminuem bastante.

“Se a economia melhorar, as chances de uma candidatura Lula podem ser muito boas. Se a economia permanecer como está ou piorar, 2004 passa a ter um peso muito grande porque o PT perdeu, e a base do governo vai ficar fraca.”

Francisco Weffort, cientista político

O abalo do resultados das urnas foi tão grande que já no início da semana iniciou-se uma troca de acusações entre a coordenação da campanha de Marta Suplicy e o senador Eduardo Suplicy sobre a responsabilidade do ex-marido na derrota da ex-mulher. O episódio culminou com o inusitado parlamentar do PT brandindo na Rede Globo o livro do marqueteiro responsável pela campanha de Marta, Duda Mendonça (“Casos e Coisas”), destacando o trecho onde ele afirma “quem bate perde”, dando a entender que a coordenação não seguiu os ensinamentos do guru.
Mais conseqüente, todavia, foi a reunião da cúpula do PT com o presidente Lula, no meio da semana passada, para avaliação “a quente” dos resultados do segundo turno.

“A conclusão geral foi de que o resultado das eleições tornou o caminho de Lula à reeleição um pouco mais espinhoso. Da reunião decidiu-se tentar reagrupar a base governista no Congresso e acelerar o crescimento econômico, afagando a classe média com mais emprego e mais renda.”

Revista Veja, 10.11.2004

Crescimento econômico e emprego, portanto, saíram mais fortalecidos ainda do segundo turno como pedras de toque em 2005 para a campanha da reeleição em 2006.

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