Com a morte do economista Celso Furtado, desaparece o último dos cinco grandes “explicadores” do Brasil no século 20.Além de Celso, economista, paraibano da cidade de Pombal, nascido em 1920, que deixou como legado, além de inúmeras obras, o livro básico para a compreensão do país “Formação Econômica do Brasil”, publicado pela primeira vez em 1959, os outros quatro “explicadores” são: (1) Gilberto Freyre (1900-1987), sociólogo pernambucano, com o livro “Casa Grande & Senzala” (1933); (2) Sérgio Buarque (1902-1982), historiador paulista, com o livro “Raízes do Brasil” (1936); (3) Caio Prado Júnior (1907-1990), editor paulista, com o livro “Formação do Brasil Contemporâneo” (1942); e (4) Raymundo Faoro (1925-2003), advogado gaúcho, com o livro “Os Donos do Poder” (1958).Foram cinco gigantes do pensamento nacional que, com suas obras portentosas, tiveram como preocupação básica interpretar o Brasil e tentar explicar de onde viemos e porque somos o que somos hoje. Com isso, deram uma contribuição inestimável à nossa compreensão de país, fortalecendo a própria idéia de nação unificada.
“O Brasil é um país especial; é um país que foi fabricado. O Brasil foi fabricado por um projeto, um negócio português, uma feitoria. (…) No século 19, o Brasil não se espatifou como o resto da América do Sul porque tinha tradição de Estado, e de um estado unificador, como foi o português.”
Celso Furtado, revista Reportagem, outubro/1999
Além de intelectual respeitado internacionalmente, Celso Furtado foi bem mais além do que seus companheiros na execução de suas idéias como homem público. De autor do Plano de Metas do presidente JK até o cargo de ministro da Cultura no governo Sarney, passou pela criação e direção da Sudene, pelo ministério do Planejamento do presidente João Goulart, além da Cepal em Santiago do Chile. Sem falar nas universidades estrangeiras que freqüentou como professor reconhecido depois que teve que deixar o país expulso pelo golpe militar de 1964.Tinha a rara capacidade de juntar a sofisticação do pensamento complexo e da interpretação da realidade com a habilidade de formular proposições concretas e de executar políticas públicas.
“Foi um desbravador do conhecimento sobre a realidade brasileira e latino-americana, com fino senso de construção de um projeto nacional. Ele se definiu como um intelectual engajado, a serviço da ação. Foi um militante da causa desenvolvimentista, mas nunca um panfletário, sempre um acadêmico, um professor.”
Ricardo Bielschowsky, professor da UERJ
Foi um desenvolvimentista na idéia e na ação. Acreditava num crescimento econômico integrado, com redução das desigualdades. Pensou e trabalhou por um país diferente que não viu constituir-se.
“Celso representou para nós, brasileiros, ‘a’ consciência moral e intelectual de um ‘outro’ Brasil, que acreditava na ‘fantasia organizada’ de construir, com autonomia, um desenvolvimento autêntico e justo.”
Rubens Ricúpero, Folha de S. Paulo, 21.11.2004
Vai fazer falta, justamente neste momento em que crescimento econômico com inclusão social é um imperativo para a integridade do país. Oxalá seu exemplo inspire a orientação econômica do governo Lula que teve o seu apoio, mas com quem morreu desgostoso pelo descumprimento, até agora, da promessa desenvolvimentista.