A crise política dá oportunidade aopresidente de mostrar sua face de estadista

 
São graves as acusações do deputado Roberto Jefferson sobre o pagamento, por parte do PT, de um “mensalão” a deputados da base aliada.
“O esquema das mesadas parlamentares que saqueia os cofres públicos e remunera um ‘exército de mercenários’ no Congresso para aprovar as iniciativas do governo, é um dos maiores escândalos políticos da história do Brasil.”
Roberto Busato, presidente da OAB, FSP, 12.06.2005
Tão graves que, ainda que parcialmente confirmadas, colocam em sério risco a reeleição do presidente Lula. Afinal, o instituto da reeleição, na prática, transformou o mandato presidencial no Brasil num período de 8 anos com um plebiscito no meio, como ocorre nos EUA.
“O Palácio do Planalto admite: a crise é grave e acendeu o sinal amarelo para o projeto de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.”
Clóvis Rossi, jornalista, FSP, 08.06.2005
A gravidade das denúncias é tal que já se lê nos jornais menções ao impeachment do presidente Lula, num evidente exagero, por certo influenciado pelo fato de o deputado Jefferson ter sido um dos líderes da “tropa de choque” do ex-presidente Collor. Foi preciso um líder da oposição vir em socorro do presidente, enfatizando a necessária diferença.
“O presidente tem uma história que merece o nosso respeito. O presidente Lula não é o presidente Collor.”
Aécio Neves, PSDB, governador de Minas Gerais
A Veja desta semana traz uma declaração atribuída ao presidente Lula, segundo um ministro que pediu à revista para não ser nominado, que dá mostras não só dessa diferença mas também da sua disposição para ir fundo no esclarecimento dos fatos, mesmo que isso signifique, como havia declarado antes, “cortar na própria carne”:
“Não vou segurar ninguém acusado de corrupção. Esse governo não é conivente com corruptos e não vou manchar minha biografia.”
Presidente Lula, Veja, 15.06.2005
Além disso, o presidente ordenou ao ministro da Justiça que, num prazo de 45 dias, apresente uma proposta de reforma política que permita o enfrentamento de uma questão que está na base da problemática atual (ver a respeito Gestão Hoje números 523 e 524), numa evidência de que pelo menos aparenta querer lidar com a crise de frente. É verdade que, ao fazer isso, o presidente desconsiderou que já existem tramitando no Congresso dois projetos que tratam do assunto e que podem ser apressados. Todavia, o que parece ter demonstrado foi a disposição de não ficar parado e, até, ir além, aproveitando a oportunidade para mostrar sua face de estadista.
“Se V. Exa. se decidir por esse combate frontal, como ninguém até hoje ousou, estará plenamente justificado perante a história e honrará a expectativa dos que o elegeram. Nem só de obras se faz um estadista. A faxina moral é a grande oportunidade que a história oferece ao seu governo para imortalizar-se. Não a desperdice. Esteja à altura deste momento que honrará a sua biografia.”
Roberto Busato, presidente da OAB, FSP, 12.06.2005
A pergunta que todos fazemos é se o presidente conseguirá fazer isso ou não. Se conseguir tem a chance de terminar bem o governo e, quem sabe, tentar a reeleição. Se não, tudo pode acontecer, inclusive o esfacelamento do governo que se arrastará fragilizado até o fim do atual mandato.

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