Ainda não é possível caracterizar ocenário mais provável para o governo Lula


 
 
 
Quando o deputado Roberto Jefferson resolveu puxar, na tentativa de desviar a atenção das acusações que lhe estavam sendo feitas, o fio do “mensalão”, ninguém tinha idéia da dimensão do novelo que está sendo desenrolado à vista de todos. Um novelo cuja extensão, inclusive, ninguém ainda é capaz de prever.
“É cedo para se saber o desfecho da pior crise que o Brasil vive desde a redemocratização.”
Míriam Leitão, O Globo, 17.07.2005
O desdobramento dos fatos tem se dado de forma tão surpreendente que a vistosa história original do mensalão, contada pelo histriônico deputado petebista, passou a segundo plano. Assumiu a cena principal o contorno já razoavelmente delineado de um espantoso esquema de captura da máquina do governo federal, comandado pela cúpula deposta do partido do presidente da República. Tão espantoso que já provocou uma reorientação da estratégia da oposição.
“Há uma importante mudança de foco da oposição. Já mal se fala do mensalão que não dá o ar de suas provas. No alvo agora o projeto de poder petista, movido a dinheiro.”
Tereza Cruvinel, O Globo, 15.07.2005
À medida que o esquema está sendo desvendado, vai ficando claro o que aconteceu desde a eleição que levou Luiz Inácio Lula da Silva à presidência da República.
O Partido do Trabalhadores elaborou e executou, de forma brilhante, diga-se de passagem, um plano para ganhar a eleição mas, ao chegar ao poder, percebe-se hoje, não tinha um projeto para o país. Ou seja, tinha um projeto de poder mas não uma estratégia de governo. Resultado: na falta da estratégia, o projeto de poder transferiu-se da estrutura partidária para a máquina pública, sob o comando do então todo poderoso ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu.
Dirceu assumiu o governo funcionando, na prática, como um primeiro ministro de um governo proto-parlamentarista, com o presidente atuando como um chefe de estado que não detinha, por estilo e falta de disposição, a chefia do governo.
Para ajudá-lo nesta exigente tarefa, José Dirceu montou uma verdadeira estrutura paralela na Casa Civil e, mais grave, montou um “estado maior” que coincidia com a direção do Partido dos Trabalhadores. Delúbio Soares (tesoureiro), Sílvio Pereira (secretário-geral) e Marcelo Sereno (secretário de comunicação), dirigentes do PT, passaram a operar, segundo testemunhas, de dentro do Palácio do Planalto na arrecadação e distribuição de fundos, na distribuição e nomeação dos cargos públicos de confiança na máquina federal e na relação com a base aliada no Congresso Nacional.
O esquema montado começou a fazer água com a eclosão do “Caso Waldomiro” que atingiu mas não abateu o ministro José Dirceu. Mais de um ano depois, porém, desentendimentos internos ao esquema levaram à mídia a ponta do novelo que passou a se desenrolar numa velocidade impressionante e terminou por derrubar José Dirceu, arrastando com ele toda a cúpula do partido. Com isso, o esquema que tinha dado certo por vários anos no PT ruiu, sobretudo porque a realidade do país é muitíssimo mais complexa que a de um partido político, por maior que ele seja, como bem observa o professor da Universidade Federal do Norte Fluminense, citado na coluna de Merval Pereira n’O Globo:
“No governo não funcionou, porque a complexidade dos desafios nacionais demandava resultados, que exigem definições que, por sua vez, pressupõem realismo, consistência, diálogo.”
Hamilton Garcia, sociólogo
Agora, não dá para saber o cenário mais provável dos três apresentados no número anterior (ver GH/543) dada a gravidade das denúncias e das confissões que já começam a acontecer. Só resta aguardar e torcer para que o novelo ao se desenrolar não faça um nó impossível de desatar.

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