Acusações chegam a Palocci maspaís dá mostras de ser maior que a crise


No início da tarde da sexta-feira passada, com a denúncia feita por um antigo auxiliar de que o ministro Antônio Palocci, quando prefeito, recebeu uma propina mensal de R$ 50 mil da empresa que fazia a coleta de lixo na cidade, pareceu que o governo Lula tinha chegado, de fato, ao seu final.
“A crise por si só foi levada para dentro do Palácio do Planalto com a delação premiada de Buratti, ex-assessor de Palocci na prefeitura de Ribeirão Preto. Assim, o paciente, o governo Lula, que estava aparentemente com os sinais vitais preservados, passa a respirar agora com ajuda de aparelhos. As funções renais estão comprometidas, os batimentos cardíacos acelerados e com um quadro de infecção generalizada. O paciente está em coma induzida pelos acontecimentos.”
Jorge Bastos Moreno, Blog do Moreno, 19.08.05, 13h12
A repercussão foi imediata. No mercado financeiro a cotação do dólar deu um salto de quase 5% e a bolsa caiu. No exterior, o risco-Brasil subiu. Um arrepio de medo percorreu a espinha da opinião pública. Todos os que têm um mínimo de compreensão do que está acontecendo e temem pelas conseqüências de toda essa irresponsabilidade na estabilidade econômica ficaram apreensivos. Não se sabia o que poderia acontecer depois que aquela que era considerada a penúltima cidadela fosse abalada. Na imprensa internacional, começaram a aparecer as primeiras reações. A principal manchete do jornal francês Le Figaro, no sábado 20.08, tradicionalmente simpático ao governo Lula, foi: “Corrupção no Brasil: Lula Ameaçado”.
A coisa parecia ir de mal a pior até que o ministro Palocci convoca uma entrevista coletiva na sede do ministério da Fazenda para o domingo na hora do almoço. Para a surpresa de todos, o ministro passa mais de duas horas expondo e respondendo perguntas, algumas muito embaraçosas saindo-se, diante das circunstâncias, bastante bem. Tão bem que até a oposição elogiou, como se pode ver pela declaração do líder do PFL na Câmara, divulgada no site do jornalista Ricardo Noblat (www.noblat.com.br), por sinal, a melhor fonte de informações sobre a crise.
“Palocci falou com segurança, mostrou tranqüilidade e não atacou diretamente Buratti. Disse o que o mercado queria saber: não vai haver alteração na política econômica. E ele continuará no ministério.”
José Carlos Aleluia, Blog do Noblat, 21.08.05, 20h
Essa reação da oposição, e pelo que se pode antecipar, a assimilação do mercado, levam à conclusão de que, ao contrário do que se pensava antes, o atingimento do ministro pelo vendaval das denúncias não coloca em sério risco, pelo menos por enquanto, a estabilidade macroeconômica. Até mais do que isso, conforme antecipa o jornalista Ricardo Noblat em seu blog.
“O chamado mercado financeiro já assimilou a hipótese de Lula não concluir o mandato. Desde que a política econômica seja mantida, pouco se lhe dá se Palocci fica ou sai.”
Ricardo Noblat, Blog do Noblat, 21.08.05, 10h17
Se isso é verdade mesmo, veremos nesta semana que começa. Todavia, uma coisa parece positiva no meio de todo esse inacreditável tumulto político: apesar de ter a economia beneficiada com a excelente conjuntura internacional, o país vai dando mostras de maturidade e capacidade de superação até certo ponto surpreendentes.
“Estamos vendo que governo e governantes podem ser menores que as crises, mas o Brasil é maior.”
Gilberto Dimenstein, Folha de S. Paulo, 21.08.05

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