Para o “trabalhador do conhecimento” a programação do descanso é mais exigente

Programar o descanso diante da realidade do trabalho intenso, conforme visto no número anterior (GH/572), é uma atitude essencial para uma boa qualidade de vida. Todavia, quando essa tarefa é feita por aqueles que trazem o “trabalho na cabeça”, necessário se fazem cuidados especiais.

“Chegará o dia em que 100% do trabalho humano será intelectual. Atividades perigosas, repetitivas e chatas serão feitas por máquinas. Quando o trabalho é executado com a cabeça, ele anda sempre com você, pode ser carregado para todos os lados e é possível fazê-lo no domingo à noite, na praia ou enquanto se lava a louça.”

Domenico De Masi, sociólogo italiano

De fato, embora esse dia antecipado pelo famoso sociólogo, criador do conceito do ócio criativo, pareça ainda um pouco longe, sobretudo em países em desenvolvimento como o Brasil, é preciso considerar que a transformação por ele antecipada está em pleno curso.

“A produtividade no trabalho não é mais medida pela fórmula tayloriana de quantidade de itens produzidos em relação ao tempo humano dedicado à sua execução, mas sim pelo volume de idéias úteis geradas. E idéias podem ser criadas em qualquer lugar: no escritório, no chuveiro, em um fim de semana no campo ou em um fim de tarde na praia.”

José Luiz Rossi, diretor da PWC Consulting

Peter Drucker, o guru dos gurus da administração de empresas, recentemente falecido, criou até o conceito de “trabalhadores do conhecimento” (knowledge workers) para caracterizar esse tipo de profissional. Segundo ele, esse é o grupo que mais cresce na população economicamente ativa, tanto nos países desenvolvidos como naqueles em desenvolvimento.

O trabalhador do conhecimento não tem como limitar o trabalho ao escritório e se depara com ele em qualquer lugar, inclusive naqueles momentos formalmente destinados ao lazer.

“Nos fins de semana, estou sempre ligado no que acontece. Se vou a um cinema, penso como esse filme pode ajudar em meu trabalho. Faço o mesmo em teatros, nos parques. É no dia-a-dia que vejo o que o consumidor quer, como ele vive, que me aproximo da realidade.”

Martin Sorrel, publicitário inglês

É, justamente, essa mistura inevitável que remete para o cuidado especial com a programação do descanso porque, se não, o trabalho, como um gás, ocupa todo o espaço à sua volta (não esquecer a famosa Lei de Parkinson: “o trabalho se expande até ocupar todo o tempo disponível”). Daí, a importância de programar o descanso como uma obrigação, conforme recomendado para o gerente (um trabalhador do conhecimento por excelência) pelo especialista Mintzberg, da Universidade McGill do Canadá:

“O gerente deve aprender a controlar seu tempo, tirando proveito de suas obrigações e transformando em obrigação tudo aquilo que deseja fazer (…) o tempo livre se faz, não se encontra. Há que introduzi-lo forçosamente no programa.”

Henry Mintzberg

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