Governo e oposição preparam show de populismo na campanha eleitoral


Com a divulgação do resultado da última pesquisa Datafolha que aponta recuperação do presidente Lula nas intenções de voto do eleitorado, pode-se dizer que começou, de fato, a corrida eleitoral. Uma eleição que parece polarizada entre o PT e o PSDB mas que pode trazer surpresas.
“Enquanto a eleição está polarizada entre PT e PSDB a percepção é de que não haverá mudanças drásticas. Se o candidato do PMDB for Germano Rigotto, também não muda muito. O Anthony Garotinho é que parece ter uma agenda que poderia ser mais, digamos, heterodoxa.”
Luciano Coutinho, economista, Dinheiro, 15.02.06
Garotinho, um profissional da política, tem feito de tudo para ser escolhido o candidato do PMDB, inclusive, segundo dizem as fontes mais informadas, telefonando para cada um dos convencionais do partido e para suas respectivas esposas, recuperando uma tradicional prática malufista. Até políticos tarimbados como o deputado carioca Moreira Franco e o ex-presidente do BNDES, economista histórico do PMDB, Carlos Lessa, têm entrado na onda Garotinho. Carlos Lessa, inclusive, está formulando o programa do candidato a candidato na linha do “populismo nacionalista”, explicado pelo deputado carioca:
“É uma visão popular do governo e de afirmação da Nação. É o retorno ao crescimento econômico com substantiva redução das desigualdades sociais.”
Moreira Franco, IstoÉ, 15.02.06
O próprio presidente Lula, no afã de recuperar os votos perdidos com a crise política (ver a respeito o GH/566) tem enveredado pelo pantanoso caminho do populismo flertado por Garotinho e sua nova turma. Provas evidentes dessa postura recente são a operação “tapa-buracos”, o pacote para barateamento da construção e o novo salário mínimo. Todos necessários mas fortemente impregnados de motivação eleitoral. Além do reforço do tradicional discurso direto para os pobres (os que ganham até 5 salários mínimos e formam 82% do eleitorado total).
“Lula é um líder com um traço popular e populista muito forte, que se comunica muito bem com as classes C, D e E, tanto pelo discurso quanto pelos projetos.”
Denis Rosenfield, cientista político, Veja, 15.02.06
Por isso tudo, o que se pode antecipar até a eleição é o aumento de medidas de cunho populista para garantir o eleitorado básico. Todavia, como só os votos desse segmento não são suficientes para eleger um presidente, é razoável esperar, também, medidas que permitam a recuperar uma parte essencial dos votos perdidos nas classes A e B.
“Não há na história recente um presidente que tenha sido eleito sem forte apoio na classe média. Caso o eleitorado de Lula se restrinja às camadas mais pobres, ele terá apoio suficiente para chegar ao segundo turno, mas dificilmente vencerá.”
Rogério Schmitt, cientista político, Veja, 15.02.06
O ano de 2006, já considerado curto (por conta da Copa do Mundo e da eleição), será, com certeza, marcado por uma campanha eleitoral movimentada. Do lado do governo, as medidas de proteção do eleitorado “cativo” e benesses para recuperar os votos perdidos. Do lado da oposição, artilharia pesada com a munição da crise política. Do lado de Garotinho, o neopopulismo com “substância”. Seria divertido se não fosse principalmente triste. É preciso elevar urgentemente o nível do debate. Hoje, o problema do país é mais político do que econômico.

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