Hoje, o problema estrutural do Brasil é mais político do que econômico

 
A montanha pariu um rato. A “reforma política” votada no Congresso, que se mostrava indispensável depois do show de improbidade explícita exibido ao vivo, a cores e em cadeias nacionais de rádio e TV, pelas CPIs dos Correios, do Mensalão e dos Bingos e pelos Conselhos de Ética e Decoro Parlamentar do Congresso Nacional, parece uma brincadeira de mau gosto.
“É difícil acreditar que nove meses de escândalo do mensalão não tenham sido suficientes para que o Congresso Nacional produzisse uma resposta minimamente séria à crise. Em vez disso, concebeu-se um projeto pífio com a suposta intenção de combater o caixa dois — o que já é um desvio de foco.”
Revista Veja, 15.02.06
O projeto aprovado pela Câmara dos Deputados trata de coisas que têm sua importância mas são acessórias diante das necessidades e da gravidade do problema político no país que chega, mesmo, a ser considerado estrutural por gente que pensa sobre o assunto.
“No fundo, o problema estrutural do Brasil é político. Temos um regime presidencialista sem partidos fortes para dar apoio ao presidente. É um sistema que fragiliza a governabilidade e leva a um esquema de cooptação de aliados, que explica um pouco esses escândalos que estão aí.”
Luciano Coutinho, economista, IstoÉ, 15.02.06
O pior de tudo é que essa atitude de não tratar do principal, só do acessório, está na contramão dos reclamos da sociedade, impactada pelos escândalos recentes. Desconhecer isso é de uma insensibilidade estranha à classe política, sempre atenta aos movimentos da sociedade. Certamente, isso tem um preço a ser cobrado no futuro e esse preço pode ser, justamente, a entrega do governo para o exercício de mais uma aventura política de cunho populista, como vimos no início dos anos 1990 no Brasil.
“O escândalo do mensalão e outras coisinhas mais contaminaram a classe política. O campo ficou aberto para o aparecimento de alguma figura carismática que procure ascender com a demagogia do fim da corrupção.”
Leôncio Martins Rodrigues, Veja, 15.02.06
Neste cenário, o Brasil mais uma vez perderia tempo precioso em sua corrida já atrasada para o desenvolvimento sustentado. Claro que o país tem problemas estruturais na economia que precisam ser atacados com cuidado e determinação para a retomada do crescimento, capaz de ir além do “vôo da galinha” que tem marcado o nosso desempenho já lá se vão praticamente duas décadas. A indigência política dos representantes do povo é um sério entrave a isto.
“Eu vejo mais razões de preocupação com a política do que com a economia. Claro que qualquer um pode pôr a economia para desandar, adotar uma heterodoxia desastrada. Mas a margem de erro é menor na economia que na política.”
Luciano Coutinho, economista, IstoÉ, 15.02.06
Coragem e integridade política para fazer os ajustes estruturais necessários que recoloquem o Brasil no indispensável caminho do desenvolvimento são, portanto, requisitos que devem ser cuidadosamente observados neste ano eleitoral, tanto nas chapas majoritárias quanto nas listas proporcionais. Votar por bons representantes tanto no Executivo quanto no Legislativo é, portanto, mais do que nunca, questão de interesse nacional.

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