Sem política nacional de segurança é impossível enfrentar a insegurança pública


A ofensiva do crime organizado em São Paulo no fim de semana do dia das mães, além de desmoralizante para o poder público, é um acinte para a sociedade não só paulista como brasileira. 
Trata-se de uma ilustração cabal do fracasso da política de segurança pública praticada no país e da confirmação da tese defendida pelo Gestão Hoje de que só é possível desenvolvimento sustentado com três condições essenciais: educação integral e de qualidade; crescimento econômico continuado; e segurança pública eficiente (ver números 584 e 585). Enquanto essas condições não se dão, ficamos todos a mercê de coisas como essas acontecidas em São Paulo, reféns do crime organizado e, sobretudo, do crime desorganizado que nos apavora diariamente.
No que diz respeito à segurança pública, é indispensável uma articulação nacional, sob a liderança do governo federal. Política de segurança pública é uma coisa séria demais para ser tratada só no âmbito estadual, sobretudo agora quando se verifica que há evidentes articulações supra-estaduais do crime organizado.
Se um estado como São Paulo, o mais rico da federação brasileira, com uma continuidade política de 12 anos (dois mandatos de Mário Covas e um do seu vice Geraldo Alckmim), ainda não conseguiu equacionar o problema da segurança pública, o que dizer dos demais estados, alguns deles sem sequer dinheiro para colocar gasolina nos carros da polícia?
Segurança, assim como saúde e educação, direitos essenciais do cidadão, tem que ser objeto de uma política nacional. Atualmente, a da saúde é a política mais federalizada (sistema SUS). Depois, vem a educação e, por último, bem longe, a segurança publica, quase que praticamente descentralizada pelos estados.
No nível em que o problema chegou, é impossível tratá-lo sem a efetiva articulação federal, de modo a que seja implantada uma lógica e medidas executivas que tenham abrangência, de fato, nacional. O problema é que os sucessivos governos federais, desde a redemocratização, há 21 anos (ver a respeito GH/586) têm solenemente desconsiderado o assunto.
“O governo federal, desde sempre, omitiu-se na questão da criminalidade. A ditadura piorou a situação militarizando e tornando mais violentas as polícias. Após a redemocratização, nunca se percebeu que a questão, em certa dimensão, precisa ser federalizada, como foi nos Estados Unidos, por exemplo, em momento crítico de alastramento selvagem da criminalidade.”
Mauro Malin, Observatório da Imprensa, 13.05.06
Enquanto isso não se dá, ficamos todos submetidos aos efeitos deletérios de uma situação que só tem piorado e, o que agrava mais ainda o quadro dramático, hipnotizados por uma mídia obliterada por uma situação que sequer, de fato, consegue compreender.
“A mídia é completa, cabal, visceralmente co-responsável por este estado de coisas. Ela trabalha em aliança com a polícia, cujos métodos ineficazes é incapaz de criticar, cujas dificuldades desconhece, e da qual se aproxima quase sempre com o único e exclusivo intuito de praticar a mais deslavada espetacularização.”
Mauro Malin, Observatório da Imprensa, 13.05.06
Em ano eleitoral, esse é um tema que deve ser objeto da atenção do eleitor para cobrar dos candidatos propostas que sejam consistentes para o enfrentamento desse flagelo social e suas implicações “para trás” e “para a frente” no encadeamento dos graves problemas nacionais. Olho vivo, eleitor!

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