Decretado o cessar-fogo na guerra de Israel contra o Hezbollah, ainda que dez entre dez analistas jurem de pés juntos que ele é absolutamente precário, abre-se uma janela que permite tratar de um tema historicamente relacionado às disputas bélicas: a estratégia empresarial.
De fato, e estratégia empresarial é uma disciplina derivada da estratégia militar, ela própria uma disciplina milenar. Foi após a Segunda Guerra Mundial, com a muito bem sucedida participação norte-americana no conflito, que especialistas pioneiros da administração de empresas nos EUA trataram de transportar para o ambiente empresarial alguns princÃpios básicos da estratégia militar. Foi criado assim o Planejamento Estratégico.
Muito já se escreveu e falou sobre a vinculação entre essas duas disciplinas e ainda hoje em dia faz sucesso âA Arte da Guerraâ?, espécie de tratado de estratégia militar da China antiga, escrito há mais de 2.400 anos, atribuÃdo ao general Sun Tzu. Todavia, essa vinculação entre estratégia empresarial e militar deve ser observada sempre com cuidado. A transposição não pode ser literal.
âSeja crÃtico com esse negócio de estratégias militares. Desculpe, Mr. Sun Tzu, mas o senhor estava errado.â?
Clemente Nóbrega, consultor e escritor brasileiro
Na guerra, o objetivo final é a conquista de um território e/ou o aniquilamento do inimigo. Na disputa empresarial, o objetivo é a conquista de uma parcela do mercado e a vantagem sobre o(s) concorrente(s). Transpor literalmente uma coisa para outra é não só inadequado como perigoso. Todavia, algumas lições da guerra podem ser boas para a estratégia empresarial e, guardadas as proporções, podem ser úteis quando a disputa acirrada com o concorrente for inevitável.
A seguir, algumas máximas da guerra que podem ser aplicadas à realidade empresarial quando a âconflagraçãoâ? com a concorrência é a única saÃda.
1. A Guerra é o Ãltimo Recurso da PolÃtica
Dado no seu custo sempre imenso, só se deve partir para o conflito armado quando se esgotam todas as possibilidades de negociação polÃtica/diplomática ou quando se é atacado de um modo que não há outra alternativa que não seja a defesa ou o revide.
2. Sabe-se Como se Entra mas não Como se Sai
A conveniência e os custos envolvidos numa disputa bélica devem ser, sempre, muito bem pensados porque, depois de deflagrado o conflito, é muito provável que não seja mais possÃvel sair dele sem perdas significativas.
3. Quem Quer a Paz se Prepara para a Guerra
Infelizmente, em ambientes de disputas potenciais em que o adversário tem poder de fogo considerável, só a certeza de que haverá revide à altura é capaz de dissuadi-lo de atacar e de considerar seriamente a possibilidade de negociação antes de partir para o conflito aberto.
4. Quem não tem Estratégia fica a Reboque
Quem não tem a sua própria estratégia bem definida, fica inevitavelmente a mercê da estratégia do adversário e sempre na defensiva. Sem iniciativa estratégica, a dependência da sorte passa a ser vital e as chances de vitória se reduzem drasticamente.
5. O Pior Erro é Subestimar o Inimigo
Antes, durante ou depois de deflagrado o conflito, subestimar o que o inimigo é capaz de fazer pode se transformar num erro fatal. à preferÃvel correr o risco de superestimá-lo do que o de ser surpreendido por ele.
6. Se não dá para Vencê-lo, Junte-se a Ele
Todavia, se o poderio do adversário é tamanho que não é possÃvel vencê-lo, uma alternativa bastante pragmática que se pode analisar é unir-se a ele, desde que, claro, não exista nenhum impedimento de princÃpios. Fora isso, a alternativa de enfrentamento do adversário em condições de desigualdade é a guerra de guerrilha. Mas isso já é assunto para outro Gestão Hoje.