Com a reeleição o mandato passou aser de oito anos com um plebiscito no meio


Pelo andar da carruagem na eleição presidencial, faltando 14 dias para a votação, só um fato completamente inusitado será capaz de impedir a reeleição do presidente Lula, a julgar pelas últimas pesquisas, já no primeiro turno.
Esse fenômeno confirma uma tendência verificada, inclusive em outros países, de que o instituto da reeleição, ao fim e ao cabo, um recurso politicamente civilizado mas, ao que parece, não muito bem utilizado entre nós, provoca a duplicação da duração do mandato executivo (presidente, governador, prefeito), com um plebiscito no meio.

“Na prática, a reeleição significa, em muitos países, um mandato de oito a dez anos, com um plebiscito no meio, quando o eleitorado julga as ações do governante e decide se deseja ou não confiar-lhe um novo mandato.â€?

Lúcia Hipólito, Estado de S. Paulo, 28.08.05

No presente caso brasileiro, verifica-se não só uma confirmação dessa tendência como um outro fenômeno bastante particular: pelo que tudo parece indicar, o presidente Lula conseguiu passar eleitoralmente incólume ao incrível arsenal de denúncias que devastou toda a direção nacional do seu partido, o PT, e todo o primeiro escalão de auxiliares que compunham o seu staff mais próximo. O fator determinante desta surpreendente performance parece ser a economia, como alertou certa vez o assessor de marketing do ex-presidente dos EUA, Bill Clinton, na disputa com o ex-presidente George Bush, pai.

“É a economia, estúpido.â€?

James Carville, campanha presidencial de 1992

A expressão um tanto grosseira do assessor presidencial tinha o propósito de chamar a atenção para o fato de que é a economia que, em última análise, tem fator preponderante na escolha do eleitor. Na eleição em que foi proferida, o candidato iniciante Bill Clinton enfrentava um presidente veterano, candidato à reeleição, que tinha ganho a Guerra do Golfo mas que pilotava uma economia meio combalida. Coisa que não ocorre na presente eleição brasileira.
Pelo contrário, até. Favorecida por um cenário internacional para lá de benigno, talvez o melhor desde a Segunda Guerra Mundial, pela manutenção da política de estabilização macroeconômica e por uma agressiva política de benefícios sociais, a economia no primeiro mandato do presidente Lula reagiu favoravelmente.

“A vida melhorou. Pode não ter sido o espetáculo do crescimento, mas foi um show indiscutível, principalmente para quem está na base da pirâmide.â€?

Marcelo Néri, economista da FGV, Veja, 20.09.06

Isso fica evidente com a divulgação da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) feita pelo IBGE. O salário médio do trabalhador, por exemplo, cresceu em 2005 pela primeira vez desde 1996. Na região Nordeste, onde o candidato Lula tem 70% das intenções de voto, as vendas no comércio cresceram 16,5%.

“É isso o que conta para o pobre. Mensalão, sanguessuga, isso não quer dizer nada. Ele está preocupado com a queda do preço do cimento e do arroz, o que de fato aconteceu. Qualquer candidato com uma bandeira dessa se beneficiaria nas urnas.â€?

Rogério Schmitt, cientista político, Veja 20.09.06

Diante de uma conjuntura dessas, tudo faz crer que o eleitor, a criatura mais pragmática do universo, só tomaria a decisão de mudar se fosse para algo que se mostrasse radicalmente melhor. Coisa que não apareceu. Pelo menos até agora.

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