Tanto as privatizações quantoo Bolsa-Família são bons para o país


Diz a sabedoria popular que em se tratando de futebol, religião ou política, nenhuma discussão termina bem. Até em mesa de restaurante, cujos freqüentadores diários prezam a tranqüilidade do convívio, existe a determinação (no restaurante Gula Gula, Rio de Janeiro, de acordo com o site http://www.gulagula.com.br/):

“A única regra que temos é não falar de política, religião ou futebol, assuntos que sempre dão briga.”

Rui Rodrigues, publicitário carioca

Em época de eleição, então, os ânimos se exaltam e o raciocínio lógico fica refém das paixões despertadas pela torcida a favor do candidato preferencial. Tudo termina girando em torno das preferências, não raro cegas para outras evidências que não aquelas vinculadas ao candidato em que, por razões diversas, já se escolheu votar.

“A paixão sem razão é cega.”

Baruch de Spinoza, 1632-1677, filósofo holandês

Por isso mesmo, a bem da preservação da lucidez, vale a pena um esforço de raciocínio lógico e ao máximo possível desapaixonado, sobre pelo menos duas questões importantes que estão sendo tratadas na campanha para presidente da República, tanto de um lado quanto do outro: (1) privatizações; e (2) Bolsa-Família. No que diz respeito às privatizações condenadas pela campanha de Lula, urge que se faça, de partida, a seguinte ressalva:

“As privatizações que o presidente-candidato condena envolveram empresas que o setor privado administrou com uma eficiência que o Estado nunca demonstrou, como mostram os resultados da Vale do Rio Doce, das usinas siderúrgicas e das teles.”

O Estado de S. Paulo, 15.10.06

De fato, não fosse a privatização realizada no governo FHC, a telefonia, por exemplo, continuaria como monopólio estatal que só disponibilizava pouquíssimas linhas, fixas ou móveis, a preços exorbitantes que ensejavam, inclusive, declaração no Imposto de Renda.A exploração eleitoral do tema é completamente anacrônica e só surte efeito pela inabilidade do PSDB em explicar seus benefícios, a ponto de o candidato Alckimim aparecer para a imprensa envergando uma inadequada jaqueta com as logomarcas de empresas públicas, por definição, não privatizáveis. Em relação, por sua vez, ao programa Bolsa-Família, a desinformação é semelhante.

“O Bolsa-Família atende hoje cerca de 9 milhões de famílias em todo o Brasil e a meta é chegar até 11,1 milhões ainda este ano, quando estão previstos gastos de cerca de R$ 8,7 bilhões. Recebem o benefício mensal, entre R$ 15,00 e R$ 95,00, famílias com renda por pessoa de até R$ 120,00 por mês. Como contra-partida, a família beneficiada se compromete a manter os filhos na escola e cumprir cuidados básicos com a saúde.”

www.contasabertas.uol.com.br, 17.10.06

As estimativas dão conta de um contingente de beneficiários da ordem de 45 milhões de pessoas a um custo anual de cerca de 0,5% do PIB, o que foi fator decisivo para a queda de 19,18% da miséria no governo Lula (ver a respeito GH/606). Tanto as privatizações quanto o Bolsa-Família, são, portanto, coisas boas para o país. Se os métodos não foram adequados, se houve falcatrua ou se as contra-partidas estão sendo desconsideradas, aí é outra história. O que não se deve é jogar o menino fora junto com a água do banho por embotamento da razão em face da paixão eleitoral. Afinal, com ambas iniciativas o país avança. Aos trancos e barrancos, como sempre, mas avança.

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