Confirmando a lógica eleitoral no Brasil, depois da introdução do instituto da reeleição, Luiz Inácio Lula da Silva foi aprovado no “plebiscito de meio de mandatoâ€?, com a ajuda da economia e da queda da miséria (ver a propósito GH/605 e GH/606). O acidente de percurso que levou ao segundo turno deveu-se mais ao descuido da situação do que à competência da oposição (ver a propósito GH/607).

“Há muitas razões que explicam a vitória de Lula nas eleições deste domingo e muitas serão discutidas nos próximos dias, mas há uma que me parece fundamental: Lula ganhou porque, para a maioria da população, não estava na hora de mandá-lo de volta para casa com apenas quatro anos de mandato.â€?

Marcos Coimbra, presidente do Vox Populi, 29.10.06

Depois que foi para o segundo turno sem esperar, Lula reagiu, partiu para o ataque e não se intimidou nem com a reação mais agressiva de Geraldo Alckmim no primeiro debate (ver a propósito GH/608). Na segunda etapa da eleição, depois de ter captado o recado do eleitorado que o queria mais afirmativo e menos envolvido com dossiês, Lula pôde mostrar o que, de fato, tornou-se decisivo, a ponto de ver Alckmim ter mais de dois milhões de votos a menos do que no primeiro turno.

“Desta vez, Lula partiu para a reeleição tendo três trunfos na mão: a sua personalidade, as suas realizações e os erros dos adversários.â€?

Editorial Estado de S. Paulo, 29.10.06

De fato, o segundo turno foi palco para um presidente mais solto, mais irônico, mais à vontade para mostrar sua personalidade incomum, lembrar sua trajetória impressionante e sua origem mais do que humilde e, ajudado pela falta de consistência da oposição, conseguir colocar seu adversário na defensiva e mostrar, com mais clareza, o que fez pela parcela mais pobre da população.

“Acima de tudo para os eleitores que confiaram em Lula, esses ‘primeiros’ quatro anos foram de cumprimento da palavra empenhada, de resgate do que seria seu compromisso fundamental, tão fundamental que não precisava sequer ser enunciado, de fazer um governo que melhorasse as condições de vida dos mais pobres. Isso, para a maioria da população, Lula fez e fez até mais que muitos esperavam.â€?

Marcos Coimbra, presidente do Vox Populi, 29.10.06

Foi isso que desenhou a vitória alcançada e suplantou todo o passivo de escândalos e questionamentos éticos que se abateram sobre o governo no primeiro mandato. No segundo turno, Lula conseguiu passar uma mensagem do tipo: “meu governo teve muitos problemas, mas cumpri a promessa de ajudar os mais pobres e pretendo fazer mais no segundo mandatoâ€?. Para isso, inclusive, já parte com uma vantagem grande.

“Diferentemente do que ocorreu nos últimos 20 anos, o candidato não terá de vestir um uniforme de bombeiro para apagar incêndios na área econômica. Ele comandará um país com indicadores macroeconômicos de fazer inveja aos antecessores.â€?

Leandro Modé, Estado de S. Paulo, 29.10.06

Claro que terá também muitas dificuldades, inúmeras delas herdadas do primeiro governo, além de enfrentar, muito provavelmente, uma conjuntura internacional menos benigna. Mas isso já é assunto para um outro GH.

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