Depois de fazer imperar por cinco anos seguidos uma forma de pensar e agir que ficou conhecida como “Doutrina Bush”, o presidente George W. Bush amargou uma grande derrota nas eleições legislativas da semana passada (o partido Democrata, cujo sÃmbolo é um burro, passou de 203 para 229 cadeiras na Câmara dos Deputados e o partido Republicano, cujo sÃmbolo é um elefante, passou de 232 para 196).
“Depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, a popularidade do presidente, somada à subserviência da oposição democrata, adquiriu contornos de uma carta branca.”
Revista Veja, 15.11.06
De fato, Bush, depois de ganhar uma das eleições mais contestadas da história dos EUA, passou um perÃodo apático, fazendo um governo sem expressão, até que vieram os atentados de 11 de setembro e o mundo viu surgir um impressionante esquema de poder que pôs em marcha uma máquina polÃtica e militar inédita. Além da censura interna, foram duas guerras em territórios de “terroristas”: Afeganistão e Iraque. Com a insistência em atacar o Iraque, passando por cima da opinião pública mundial, da ONU e forjando provas da existência de “armas de destruição em massa” que precisavam ser destruÃdas, Bush lançou as bases da derrota que sofreu agora como bem destaca o professor da Faculdade Armando Ã?lvares Penteado (FAAP), de São Paulo, no programa GloboNews Painel do fim de semana passado.
“Foi a guerra do Iraque que iniciou a desconfiança da população no governo Bush.”
Ghunter Rudzit, cientista polÃtico da FAAP, 12.11.06
Numa sociedade de tradição democrática como a norte-americana, o que Bush conseguiu, com o apoio da direita religiosa e manipulando o pavor do terrorismo é inacreditável. Tudo para dar vazão a um objetivo geopolÃtico que não poderia ser tentado sem o respaldo do medo. Conseguiu como resultado um fracasso militar que já se compara ao Vietnã e mais ódio e isolamento.
“O grupo de lunáticos reunido em torno de Bush, ao estilo de um politburo soviético, transformou o que deveria ser uma cruzada mundial contra o inimigo comum da civilização, o terrorismo, numa inacreditável tentativa de virar de cabeça para baixo a geopolÃtica no Oriente Médio (…) Bush atolou o paÃs em uma aventura militar no Iraque, isolou os Estados Unidos de seus aliados tradicionais e criou campos de concentração que envergonham a tradição libertária americana.”
Revista Veja, 15.11.06
Imediatamente após a derrota eleitoral, Bush demitiu o secretário de Defesa Donald Rumsfeld, arquiteto da aventura militar, um dos chamados “falcões” da polÃtica “bushista” (ver a propósito o GH/426), sinalizando que os resultados das urnas devem provocar mudanças. A primeira delas deve ser a promoção do debate, interrompido com as medidas de exceção adotadas pós atentados, inclusive censura à imprensa.
“Pela primeira vez nos últimos anos vão tentar fazer a administração Bush debater. Coisa que não aconteceu, inclusive, pela dificuldade de comunicação do presidente.”
Ghunter Rudzit, cientista polÃtico da FAAP, 12.11.06
O que acontecerá daqui para a frente merece atenção pelas consequências que pode ter para a geopolÃtica e para a economia mundial. Em relação ao Brasil o que se deve esperar é mais dificuldades comerciais em razão do tradicional protecionismo democrata.