Com a divulgação do relatório do Grupo de Trabalho 1 do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês) no início do mês em Paris (ver, a propósito, o GH/625), não só foram dissipadas as dúvidas sobre a responsabilidade humana em relação ao aquecimento global, como ficou evidente que uma parte dos efeitos provocados já é irreversível, conforme assinalam os pesquisadores do Inpe e integrantes dos grupos de trabalho do IPCC.
“…a maior parte do aquecimento dos últimos 50 anos se deve exatamente às emissões de gases-estufa por atividades humanas (…) não é mais possível reverter completamente o aumento do aquecimento global. Os gases do efeito estufa em excesso continuarão aquecendo a baixa atmosfera e a superfície terrestre por séculos, muito provavelmente.”
Carlos Nobre e José Marengo, FSP, 03.02.07
O que resta é empreender um grande esforço global de redução das emissões dos gases prejudiciais. Esse esforço é de todos, pessoas, empresas e estados. Tudo para evitar os piores cenários elaborados pelo IPCC que se traduzem em número de graus de aumento da temperatura até 2100: (1) pessimista (4,0ºC); (2) intermediário (2,8ºC); e (3) otimista (1,8ºC). Só para efeito de comparação: nos últimos 100 anos (1900/2000), desde praticamente o início da Revolução Industrial, o aumento de temperatura foi de 0,6ºC. Nada de semelhante, em termos de aquecimento, segundo os especialistas, aconteceu no mundo nos últimos 650 mil anos.
“Para evitar o pior cenário possível em 2100 — um aumento maior que 4,5ºC na temperatura média global — a humanidade teria que cortar pela metade a emissão de gás carbônico prevista para este século. Um desafio e tanto.”
Rafael Garcia, jornalista, FSP, 03.02.07
Para se ter uma idéia do tamanho deste desafio, vale a pena ver o excelente filme “Uma Verdade Inconveniente” (EUA, 2006, Paramount), bem urdido documentário sobre as mudanças climáticas, protagonizado pelo ex-vice-presidente norte-americano Al Gore, recém lançado em DVD.
“É um programa quase obrigatório para quem deseja entender porque o clima anda tão louco e o que se pode fazer, no dia-a-dia, para não agravar o problema.‿
Revista Veja, 07.02.07
Para o Brasil, o desafio é adicional pois além de ter que contribuir com a interrupção da queima de florestas, ainda deverá ter papel ativo na produção de energia renovável, como é o caso do álcool combustível (etanol) e do biocombustível, equilibrando com produção de alimentos, respeito ao meio-ambiente e desenvolvimento pois não podemos deixar de gerar os empregos de que o país precisa.
“O Brasil, que se oferece ao mundo como um dos mais eficientes produtores de alimentos e mais competitivos produtores de energia de origem vegetal, terá que compatibilizar os dois produtos — alimentos e energia — e tudo com respeito ao meio ambiente. O mundo está de olho em como o país fará o que se propõe a fazer sem destruir seus biomas, principalmente a Amazônia.”
Miriam Leitão, 04.02.07