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à absolutamente espinhoso o tema da redução da maioridade penal. Por conta do tratamento do assunto no número anterior (ver GH/627), o Gestão Hoje recebeu manifestações diversas de leitores, a favor e contra, evidenciando o quanto é polarizada e emocional a discussão, o que torna praticamente impossÃvel que se cheguem a acordos mÃnimos sobre o que fazer. Nesse momento, o que se firmam mesmo são as caricaturas.
âEnquanto não acabar o cabo de guerra entre os ‘reacionários’ que querem baixar a maioridade e os ‘progressistas’ que querem a mudança social antes, o debate não avança.â?
Roberto Da Matta, GloboNews Painel, 25.02.07
A observação do antropólogo Roberto Da Matta no programa do canal GloboNews, expondo as caricaturas do que está em disputa, chama a atenção para o impasse decorrente. Afinal de contas, nem são âreacionáriosâ? os que defendem a redução da maioridade, nem âprogressistasâ? os que não. Ambos estão preocupados com a escalada alucinante da violência na sociedade brasileira e com o inevitável medo, âtriste e humanoâ? mas absolutamente justificável, de ser atingido por ela. Principalmente porque há o sentimento generalizado de que a impunidade é praticamente certa para os infratores. Só de mandados de prisão não cumpridos, as estimativas dão conta de quase 600 mil, o dobro da atual população carcerária brasileira. Sem falar nos crimes que sequer chegam à Justiça…
âA sociedade brasileira se brutalizou (…) a impunidade transformou-se num valor social, numa espécie de ética.â?
Roberto Da Matta, GloboNews Painel, 25.02.07
Todos hão de convir que esse não é, nem de longe, um sentimento despropositado num paÃs em que a principal personalidade do Poder Judiciário, a presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Ellen Gracie, quarta pessoa na linha sucessória da Presidência da República, é assaltada em plena Linha Vermelha no Rio de Janeiro e o ministro da Fazenda Guido Mantega é feito refém por sete horas em assalto durante o carnaval em São Paulo. Diante desse cenário, é impossÃvel que o debate não seja excessivamente emocionalizado mas, mesmo assim, é preciso insistir no esforço de não ficar só na emoção e de centrar a discussão no essencial.
âAs cadeias, como a redução da maioridade penal independem de ser ou não soluções necessárias, são insuficientes.â?
Cristovam Buarque, senador DF, 23.02.07
Não se trata, portanto, de substituir a atualização das medidas legais ou penais necessárias (como, por exemplo, evitar que um menor autor de crime cruel seja solto com apenas três anos de âreeducaçãoâ?) pela longÃnqua âmelhoria das condições sociaisâ?. Trata-se de admitir que elas não são, nem de longe, suficientes. Trata-se de considerar que ou fazemos uma verdadeira revolução na educação ou o futuro do Brasil será absolutamente terrÃvel.
âPela primeira vez, diante de nós, está uma revolução possÃvel e pacÃfica (…) No lugar de redução da maioridade penal, a redução da menoridade de ingresso na escola para 4 anos e a ampliação da maioridade de permanência na escola, até os 18 anos e em horário integral. (…) Isso não vai acabar com a violência, mas ela será exceção e não a regra, como hoje.â?
Cristovam Buarque, senador DF, 23.02.07
Tornar a violência exceção na sociedade brasileira é o desafio de todos nós, para além das caricaturas. Sim, a legislação penal precisa ser aperfeiçoada, porém na educação não dá mais para deixar como está. Precisa ser feita uma revolução que depende de todos.