Usando a terminologia dos formuladores de cenários (importante ferramenta de prospecção de futuros e planejamento estratégico), o aquecimento global, depois do relatório do IPCC no final de janeiro (ver a propósito os GH números 624 e 625), passou de um “fato portador de futuro” para uma importante “tendência de peso”. Uma tendência de peso alimentada, inclusive, cotidianamente, por cada um de nós.
“Incendiamos o planeta cada vez que damos partida no nosso automóvel. Cada vez que deixamos aberta a torneira por mais tempo do que o necessário. Cada vez que lançamos lixo em local inadequado. Sempre que estimulamos, ou toleramos, o avanço da área de produção agrícola sobre as florestas. Toda vez que derrubamos árvores, seja para exportação, seja para a fabricação de bens supérfluos, ou para queima nos altos fornos das siderúrgicas.”
Cristovam Buarque, senador/DF, coluna de 09.03.07
Para uma idéia mais precisa sobre o tamanho do problema e sobre o que cada um pode fazer para contribuir com a reversão dessa tenebrosa tendência que, no extremo, chega a ameaçar a própria existência da humanidade sobre a face da Terra, vale a pena ver o excelente filme “Uma Verdade Inconveniente” (EUA, 2006, Paramount), que acaba de levar o Oscar de melhor documentário. O problema grave é que, mesmo consciente do tamanho da encrenca global, enquanto indivíduos e cidadãos, temos a tendência de, devido à distância dos efeitos, postergar as iniciativas.
“O eleitor costuma pensar no imediato, não em algo que só se vai operar em dez anos. Por isso a dificuldade em se definirem ações para se reduzir o aquecimento global. Quando você vem dizer que no final do século a temperatura vai subir quatro graus e que é preciso fazer alguma coisa, isso não vai sensibilizar nenhum eleitor agora na hora do voto.”
Cristovam Buarque, senador/DF, IstoÉ, 14.03.07
Contra, porém, a “natural” inércia provocada pela aparentemente longa distância que nos separa dos efeitos mais dramáticos do fenômeno, há o que, em planejamento estratégico, também de denomina “transformar problemas em oportunidades”. Toda essa justificada movimentação em torno do tema delineia oportunidades relevantes para a mudança do modelo econômico baseado em geração de energia proveniente da queima de combustíveis fósseis.
“O aquecimento global não é apenas um espaço onde se vão distribuir sacrifícios. É um espaço também de enormes oportunidades (…) o momento aponta para o que pode ser uma nova revolução industrial, baseada numa nova matriz energética, pós-petróleo. Da energia solar, dos ventos, dos biocombustíveis.”
Fernando Gabeira, deputado/RJ, Valor, 12.02.07
Em face dos novos cenários do aquecimento, o Brasil tem, pelo menos, duas contribuições importantes a dar: (1) o exemplo da bem sucedida mobilização da população brasileira para evitar o apagão (ainda que bem reduzida se comparada com a necessária para enfrentar o aquecimento global); (2) a experiência de produção em larga escala do álcool combustível, o etanol, para a construção de uma matriz energética baseada em energia limpa e renovável. A importância do etanol foi atestada na semana passada pela visita do presidente Bush. Trata-se de uma grande oportunidade para o Brasil.