O novo PIB e a ultrapassagemdo desemprego pela violência no Brasil

 
Na semana passada o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou a nova fórmula adotada para cálculo do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro, indicador que mede as riquezas produzidas no país. O resultado, apesar de tecnicamente embasado e respaldado pela seriedade de um instituição que goza de todo o respeito, surpreendeu porque, de certa forma, revisa a história econômica dos últimos anos.

“Como num passe de mágica, o IBGE acelerou o crescimento. E de uma maneira tão simples que pareceu até ilusória. Na prática, bastou alterar a metodologia de cálculo do PIB, trocando a régua de medição, para que a soma das riquezas nacionais crescesse 10,9%. Isso fez com que o PIB saltasse de R$ 1,9 trilhão para 2,1 trilhões. E, do dia para a noite, o Brasil voltou a ser a nona maior economia do mundo, superando Rússia, Espanha, Canadá, Coréia do Sul e México.”

Dinheiro, 28.03.07

Embora a realidade da economia brasileira permaneça exatamente a mesma, o novo método de medição passou a incorporar atividades econômicas novas que ficavam de fora ou tinham peso menor no cálculo anterior (passaram a ser medidos o desempenho de 56 atividades econômicas e a produção de 110 mercadorias e serviços, contra 43 e 80, respectivamente, antes). Passaram a ser aferidos, por exemplo, processamento de dados, serviços financeiros, serviços de telefonia celular, atividades de cinema, rádio, TV e agências de notícias.

“Mesmo assim, o Brasil continua a ser um dos países de menor crescimento do mundo. Na América Latina, passamos El Salvador e empatamos com o Paraguai, na antepenúltima posição (antes estávamos à frente apenas do Haiti).”

Época, 26.03.07

O problema que o novo método não ajuda a resolver, embora alterando o índice para maior, é, justamente, o do baixo crescimento relativo do país numa conjuntura mundial ainda extremamente favorável. Em sendo assim, não surpreende, embora chame a atenção, a notícia publicada na Folha de S. Paulo do domingo: a última pesquisa nacional Datafolha aponta que a violência ultrapassou o desemprego como a principal preocupação do brasileiro.

“O tema foi apontado de forma espontânea por 31% dos brasileiros como o principal problema do país. É quase o dobro dos 16% captados em pesquisa feita em dezembro. Nenhum outro tema atinge este patamar. O desemprego que ficou no topo das aflições dos brasileiros durante todo o primeiro mandato, caiu agora para o segundo lugar — 22% o apontam como o maior problema. O tema atingiu 49% em março de 2004.”

Folha de São Paulo, 25.03.07

Embora, certamente, influenciada por episódios dramáticos mais recentes, essa mudança de opinião termina por refletir, de alguma maneira, a incapacidade do país em oferecer mais oportunidades de renda para um grande contingente populacional que, desocupado, tende à marginalização e, por conseguinte, ao aumento da violência. Se a isso se alia, ainda, a total incompetência dos governos, em especial o federal, em lidar com a questão da segurança pública, tem-se a receita da mudança de humor. De olho nas pesquisas, é possível que, agora, o presidente Lula adote postura diferente em relação a um tema tão importante quanto desconsiderado.

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