A excelente revista Época Negócios na sua mais recente edição (julho/2007) cai na armadilha montada pelo grande pensador da Administração de Empresas, o austríaco naturalizado norte-americano, Peter Drucker (1909-2005), em artigo publicado em 1988 (“O Advento da Nova Administração”), na Hervard Business Review, e afirma de forma peremptória que a empresa contemporânea deve ter a orquestra sinfônica como metáfora do seu desenvolvimento.
“Dentro de 20 anos, a típica organização de grande porte (…) não terá mais do que a metade dos níveis administrativos de sua equivalente hoje (…) ela terá pouca semelhança com a típica empresa manufatureira dos anos 50 (…) É muito mais provável que, ao contrário, ela se assemelhe a organizações a que hoje nem os gerentes profissionais nem os estudantes de administração dão muita atenção: o hospital, a universidade, a orquestra sinfônica.”
Peter Drucker, HBR, 1988
Queria o grande mestre, quando disse isso, salientar que a organização do futuro seria hierarquicamente mais “achatada” e bem mais fundamentada na informação. E usou a imagem da orquestra, como dizem os franceses, en passant, para reforçar o argumento. Acertou amplamente mas alguns leitores só se fixaram na metáfora poderosa da orquestra, inclusive a revista Negócios que incluiu na matéria uma reportagem sobre a Orquestra Sinfônica de São Paulo (Osesp).
Nada contra a Osesp, um centro de excelência da música brasileira, ocupante de uma sede extraordinária (antiga Estação de Ferro Sorocabana onde foi construída a Sala São Paulo, uma referência mundial). Tudo contra, todavia, a usá-la como paradigma para a empresa. Nada mais equivocado. A própria matéria destaca a opinião do criador e dirigente da Orquestra Filarmônica de Boston sobre a completa inadequação de usar a figura do maestro como referência para o dirigente máximo empresarial. Perguntado se o maestro era um bom modelo, respondeu:
“É o pior! O maestro é o derradeiro bastião do totalitarismo no mundo, a pessoa cuja autoridade nunca é questionada. Há um dito: todo ditador aspira a ser um maestro.”
Ben Zader, Filarmônica de Boston
Além da completa inadequação do modelo do maestro como referência para o dirigente empresarial, a metáfora da orquestra ainda traz a inconveniência adicional de reforçar o delírio da ausência de hierarquia entre o dirigente máximo e os demais integrantes da empresa. Não existe organização, a não ser com estrutura mínima, sem hierarquia intermediária. Sem unidades de negócio ou departamentos adequadamente gerenciados por líderes respeitados e competentes, não há empresa. O resto é armazém de secos e molhados, como diz o grande Millôr Fernandes. Apesar de toda metáfora, assim como a ausência, ser atrevida, se ela tiver de ser musical, é muito mais adequada a imagem da banda de jazz do que da orquestra, como, aliás, o próprio Drucker reconheceu uma década depois.
“Atualmente estamos buscando grupos diversificados que precisam ir escrevendo a partitura enquanto representam. O que precisamos atualmente é de um bom grupo de jazz.”
Peter Drucker, 1997
Aproveitando a oportunidade propiciada pelo equívoco da revista Negócios, o tema merece ser mais desdobrado no próximo Gestão Hoje.
os tempos mudam
Pois eu continuo a defender a ideia inicial!
1. O Maestro não decide sozinho. Em primeiro lugar decide em conjunto com o Concertino e os Chefes de Naipes. E em segundo lugar, as suas decisões/orientações são baseadas consoante as caraterísticas do grupo.
2. Existe sim uma Hierarquia. O Maestro, seguido pelo Concertino e pelos Chefes de Naipes.
E, como em tudo na vida, é preciso haver regras e isso não pode ser comparável com autoritarismo!