Lições da crise aérea brasileira:o que é possível aprender para a gestão

 
Passada a estupefação inicial de todos com o acidente do avião da TAM que provocou a morte de 199 pessoas, do outro lado da avenida que leva ao aeroporto de Congonhas em São Paulo, é possível pensar sobre algumas lições que a tragédia ensina e têm relação com a gestão. São pelo menos três: (1) determinados problemas não podem ser empurrados com a barriga sob pena de cobrarem um preço altíssimo no futuro; (2) uma tragédia não ocorre provocada por apenas uma causa mas por um conjunto de outras geralmente só identificadas depois que não tem mais jeito; e (3) em momentos de crise a liderança firme é indispensável.
1.Certos Problemas não Podem ser Postergados
Diz uma certa sabedoria popular que, deixados sem intervenção, a maioria dos problema termina se resolvendo com o tempo. Isso pode até ser verdade para uma determinada classe de problemas. Todavia, para uma parte importante deles, empurrar com a barriga para ver como é que fica é uma temeridade que o tempo cobra com juros e correção monetária, como é o caso da crise da aviação civil brasileira.
Anos atrás, quando foi tomada a decisão de não fazer os investimentos necessários para garantir o atendimento de uma atividade que crescia a taxas quase duas vezes maiores que o crescimento econômico chinês, aparentemente nada havia de errado já que tudo parecia funcionar bem.
De fato, se havia uma coisa que funcionava bem era a aviação civil brasileira. Era possível, por exemplo, quando necessário, sair de manhã do Recife, fazer uma reunião no Rio de Janeiro e voltar no final da noite, chegando ao Recife de volta antes da meia-noite do mesmo dia. Hoje, quem se arrisca a fazer isso, sem correr o risco de, no mínimo, perder a reunião, ou, até, o dia seguinte?
Inclusive, a Varig ainda existia e funcionava bem, regulando o transporte aéreo com o seu serviço exemplar, desenvolvido ao longo de décadas de vida empresarial.
Aí, as postergações de investimentos foram feitas, a regulação do setor foi mudada, a Varig foi deixada falir depois de uma longa agonia e o problema da infra-estrutura do setor foi sendo empurrado com a barriga até dar no que está dando.
2.Uma Tragédia não Ocorre por uma Causa Só
Todos os estudos sobre acidentes confirmam que uma tragédia como a ocorrida com o avião da TAM nunca deve-se a um único fator. Estão na ponta de uma sucessão de causas que vão sendo desconsideradas ao longo do tempo e se conjugam para provocar o acidente.
No caso da TAM, conjugaram-se a falta de investimentos no aeroporto, o congestionamento, a sobrecarga dos equipamentos e das tripulações, a falta total de coordenação dos órgãos responsáveis e a incompetência da regulação de um serviço público concedido.
A revista Veja desta semana aponta o piloto como responsável pelo acidente ao posicionar erradamente o manete da turbina direita mas alerta que se a pista fosse mais longa e/ou tivesse uma área de escape, os passageiros provavelmente não teriam morrido.
3.Na Crise é Indispensável Liderança Firme
A forma desastrosa como foi procedida a transferência das responsabilidades do DAC (militar) para a ANAC (civil) ajudou a levar a uma verdadeira acefalia da gestão do setor, deixando as companhias aéreas livres para fazerem o que quisessem. Como não tinha comando, a crise se agravou a ponto de transformar em caótica  a regulação da atividade. Ninguém sabia quem mandava efetivamente e, como diz um ditado latino, “quem tem mais de um senhor é livre”. Foi o que aconteceu com as companhias.
A recém investidura do ex-presidente do Supremo, Nelson Jobim, traz um novo alento à quase desesperança de ver as coisas voltarem ao normal. Todos torcemos para que ele consiga.

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