A última revista Exame (10.10.07), aproveitando a oportunidade da comemoração dos 40 anos da publicação, traça a evolução da economia e da sociedade brasileira nas quatro últimas décadas e chega à conclusão que, embora o primeiro impulso seja achar que falhamos na construção de um país moderno, o balanço é, na verdade, bem positivo.
“… poucas nações no mundo enfrentaram desafios tão grandiosos como Brasil nas últimas décadas. (…) Olhe para trás, caro leitor. Você verá um país onde mais da metade da população vivia no campo e produzia na base da enxada. Verá uma sociedade na qual quase 40% da população era analfabeta e mais da metade das crianças estava fora da escola. Enxergará um mercado de consumo primitivo.”
Cláudia Vassallo, Carta ao Leitor, Exame, 10.10.07
De fato, como diz a Exame, “de uma nação agrária, atrasada e fechada, o país avançou o suficiente para transformar-se numa economia moderna e relevante para o mundo. Sua renda per capita mais que quadruplicou no período, o acesso à educação básica universalizou-se e o volume de vendas ao exterior cresceu de 1,6 bilhões de dólares para o patamar de 137 bilhões de dólares por ano. No campo, se a imagem que representava o país no passado era a figura indolente do jeca-tatu, hoje o Brasil é reconhecido nessa área como uma das potências mundiais do agronegócio”. Mas, se é assim, por que, então, tanta dificuldade de reconhecer esses avanços? Renato Janine Ribeiro, professor da USP, dá um palpite.
“Exageramos tanto em nossos momentos de sucesso quanto nos de fracasso. Essa característica não nos permite ver, com clareza, quanto o Brasil mudou do final dos anos 60 para cá.”
Renato Janine Ribeiro, cientista político
Além disso, pesa também nesse estado de espírito, a comparação desvantajosa em relação aos nossos concorrentes, como destaca a Exame: “o país deve terminar este ano com uma taxa de evolução do PIB na casa dos 5%, a melhor marca dos últimos três anos. Mesmo assim, será a pior performance entre os outros gigantes emergentes — Rússia, Índia e China.”
“Nos anos 80, tínhamos uma participação no comércio mundial igual à da Coréia do Sul e à da China. Hoje continuamos com o mesmo 1%, enquanto a Coréia chegou a 3% e a China está batendo em 9%.”
Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda
Talvez uma conclusão possível seja essa: avançamos muito, mas estamos em desvantagem na corrida com os concorrentes. O que falta? Num artigo para a revista, o professor da Universidade de Chicago e Prêmio Nobel, Gary Becker, sugere três fatores prioritários para o Brasil ajustar sua capacidade competitiva.
“O primeiro é o que chamamos de capital humano – educação, treinamento, motivação para os empregados. (…) O segundo fator é a tecnologia. (…) O terceiro fator importante é política governamental. Sem boas políticas, mesmo nações com muito capital humano não conseguem prosperar.”
Gary Becker, Prêmio Nobel de Economia