A primeira coisa que se pode dizer do badaladíssimo Tropa de Elite, do diretor José Padilha, maior sucesso de bilheteria e fenômeno de pirataria do cinema nacional, é que se trata, ao mesmo tempo, de um bom e aterrador filme. Bem feito como filme e terrível pela realidade que retrata de forma dura, sem floreios.
“José Padilha não poupa talentos e recursos dramatúrgicos para deixar-nos cara a cara para o que de mais macabro produzimos em matéria de desrespeito à vida e à dignidade da pessoa. Instituições falidas e indivíduos desencantados debatem-se como moscas tentando escapar da maligna teia de destruição que se contrai e os tritura de forma inexorável. É o lado do Brasil cronicamente inviável, fluindo num jorro de imagens que comovem, dão repulsa e fazem pensar.”
Jurandir Freire Costa, psicanalista, ESP, 07.10.07
Faz pensar, principalmente, sobre que país estamos permitindo que seja construído. Um país em que as crianças e os jovens, sobretudo se forem pobres, ficam sujeitos à violência e à falta de perspectivas que os conduz, com freqüência assustadora, à idolatria dos criminosos e, por conseguinte, ao crime, como bem define o secretário de Segurança do Rio de Janeiro, delegado da Polícia Federal.
“Se não for apresentado a nenhuma outra opção, o jovem se espelhará no ídolo dele, que é o dono da boca-de-fumo: um sujeito com o corpo malhado, que tem correntinha de ouro, transa com qualquer menina e tem o carro que quer porque manda roubar, tem o celular bom porque manda roubar. É imprescindível que o estado, as políticas públicas, ataquem isso.”
José Mariano Beltrame, Veja, 31.10.07
Enquanto esse ataque não se dá nem, muito menos, aparenta que pode acontecer tão cedo, um filme como o Tropa de Elite funciona como uma espécie de catarse coletiva em busca de heróis e soluções.
“A importância do filme é ter-nos transformado em personagens (…) de um país sem enredo. Que estamos famintos de que algo aconteça, de que alguma forma de justiça se faça (…) de que não haja só aquela polícia podre de oficiais pegando jabá do bicho, de que haja heróis incorruptíveis e machos vingadores da nossa segurança. O que conta é a fome de solução que ele desperta nas pessoas.”
Arnaldo Jabor, CBN, 08.10.07
E o que é mais triste disso tudo é que não há solução fácil nem heróica para o grave problema da violência e da falta de segurança que se disseminou pelo país e que tem o Rio de Janeiro como palco principal. Não resta a menor dúvida de que é preciso enfrentar a bandidagem, de que é preciso restaurar o direito de ir e vir nas áreas urbanas tomadas pela violência, de que é preciso por um limite à ação criminosa dos traficantes. Mas, infelizmente, isso só não basta. Para cada jovem preso ou morto nessa guerra fratricida, existe uma fila de outros que se não forem para o tráfico vão para qualquer outra coisa ruim, menos o estudo e, depois, o trabalho honesto. Tudo por falta de opção. A sociedade brasileira, ou seja, nós todos, estamos desafiadas a encontrar esse caminho. Não podemos ficar esperando pelo Tropa de Elite 2.