Além dos aspectos relevantes que podem impactar a economia nacional considerados no GH/671, um outro merece destaque em 2008. Pela primeira vez no governo Lula, a conta de transações correntes (que contabiliza todas as negociações de bens e serviços com outros países), deve apresentar déficit em 2008.
“Até novembro, o saldo acumulado ainda é positivo em US$ 4,254 bilhões, mas está bem abaixo dos US$ 13,183 bilhões registrados no mesmo período de 2006. Segundo o BC, esse saldo deve ficar negativo em US$ 3,5 bilhões no ano que vem, revisando a projeção anterior de superávit de US$ 3,2 bilhões em 2008.”
Folha de S. Paulo, 20.12.07
Esse déficit projetado passa a ser objeto de preocupação maior quando os cenários internacionais destacam os riscos de propagação dos efeitos negativos do estouro da bolha imobiliária norte-americana, conforme ressalta o ex-ministro Rubens Ricupero.
“Na economia mundial, o pessimismo se alimenta de: (1) revelações semanais de novas perdas bilionárias dos bancos e contínua queda de preços dos imóveis; (2) impotência para reverter a derrocada até por meio de cortes de juros de um ponto percentual de uma só vez; (3) a sensação de início de pânico decorrente de quatro ou cinco injeções maciças de liquidez pelos bancos centrais; (4) a inflação provocada por alimentos e petróleo; (5) as declarações alarmistas do ex-presidente do Fed (o banco central dos Estados Unidos) Alan Greenspan e do ex-secretário do tesouro norte-americano Larry Summers.”
Rubens Ricupero, ex-ministro da Fazenda
Em relação à importância e às conseqüências desse provável déficit, as opiniões se dividem. Alguns analistas acham que se trata de algo ruim que compromete a qualidade do desempenho econômico do país, como é o caso do economista e professor da PUC paulista.
“É um desperdício. É um erro de política econômica deixar um déficit aparecer depois de cinco anos de esforços para reduzir a vulnerabilidade externa do Brasil.”
Antônio Correia de Lacerda, economista da PUC/SP
Já outros acham que o fato não é importante e que o fluxo positivo de capitais no mundo é suficiente para financiar o déficit, em especial quando se tratam de recursos para investimento produtivo, mais estáveis que os recursos para aplicações em bolsa, por exemplo.
“Não se imagina o país numa situação de insolvência. Haverá um déficit, mas será financiado.”
Francisco Pessoa, economista da LCA
Há, inclusive, os que acham que o crescimento das importações é benéfico para segurar os preços internos num ambiente de aquecimento da demanda, já que sem a oferta dos importados poderia haver inflação porque a capacidade de produção está perto do limite.
Pelo sim, pelo não, é bom ficar de olho nesta novidade do período Lula. Afinal, a euforia do consumo verificada no final do ano e que deve prosseguir em 2008 pode ofuscar a adequada percepção dos riscos, em especial com um cenário internacional duvidoso.