Terminado o carnaval, os jornais fazem o balanço da folia e, também, da violência. Já na semana pré-carnavalesca a imprensa nacional publicou notícias sobre o mais recente Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros. Trata-se de um estudo feito pela Ritla (Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana) com o apoio dos ministérios da Justiça e da Saúde. O trabalho utilizou informações das certidões de óbito do ministério da Saúde até 2006.
“Com essas informações, foi feita uma lista das 556 cidades mais violentas, que corresponde a 10% dos 5.564 municípios brasileiros e abrangem 44,1% da população do país e 73,3% dos homicídios ocorridos em 2006.”
Angela Pinho, Folha de S. Paulo, 30.01.08
Apesar do estudo constatar uma “interiorização” da violência, os dados de homicídios colocam na lista das 10% mais violentas 25 das 27 capitais do país, só ficando de fora Boa Vista (RR) e Natal (RN). Dentre outras, duas situações chamam a atenção: (1) a capital mais violenta (com taxa de 90,5 homicídios por 100 mil habitantes) é o Recife, figurando, inclusive, entre as 10 cidades mais violentas do país; e (2) a cidade de São Paulo caiu no ranking da 182ª. posição (48,2 homicídios por 100 mil habitantes) em 2004 para a 492ª. posição (31,1 homicídios por 100 mil habitantes) em 2006.
“Há uma tendência clara de queda em São Paulo desde 1999. Até agora, nenhum trabalho deu uma resposta conclusiva para esse fato. Se você perguntar para o poder público, ele vai dizer que foram as sua intervenções, como o policiamento; outros vão dizer que foram as ações das ONGs, que melhoraram as inter-relações sociais entre as pessoas. Para mim foi tudo isso junto.”
Marcelo Nery, pesquisador da USP, FSP, 30.01.08
Para o coronel reformado da PM paulista, José Vicente da Silva, ex-secretário nacional de segurança pública, pesquisador do Instituto Fernand Braudel, a atuação das ONGs é importante mas a melhoria da polícia exerce função essencial na redução da criminalidade verificada em São Paulo. Para ele, além da atuação das ONGs e, sobretudo, da polícia, o principal fator externo de redução dos homicídios foi a campanha do desarmamento deflagrada pelo governo federal que retirou 500 mil armas da rua.
“A ação de todas as ONGs somadas não mudaria os índices em 1%. Elas colaboram mas só aliviam o problema, não resolvem. A melhoria nas técnicas de inteligência, a integração entre as duas polícias e o esforço sobre as áreas mais críticas foram fundamentais.”
José Vicente da Silva, Último Segundo, IG 03.02.08
Seja qual for a razão principal, é importante que os gestores públicos e políticos, além das organizações que tratam do assunto, olhem com mais atenção o impressionante caso da cidade de São Paulo para que a experiência possa ser conhecida e multiplicada pelo país afora. Ultimamente, inclusive, tem havido grande interesse na observação de casos exitosos, em especial a experiência de Bogotá na Colômbia.
“Em vez de ir ver a experiência de Bogotá, deviam vir ver a experiência de São Paulo que é bem mais próxima de nossa realidade.”
José Vicente da Silva, CBN, 01.02.08