Protegido pelo desempenho externo, o mercado interno pode nos salvar da crise


A revista Exame desta quinzena, para ilustrar uma boa reportagem sobre onde investir em 2008 face às perspectivas de crise acentuada da economia norte-americana, ouviu a opinião de importantes economistas mundiais e brasileiros, em especial sobre as conseqüências dos desarranjos possíveis para a economia do Brasil.

“A economia norte-americana já entrou em recessão e acredito que será uma recessão severa, de pelo menos quatro trimestres (…) Esse pouso dos Estados Unidos vai reverberar em todos os cantos do planeta, mas não significa que teremos uma recessão mundial. No caso específico do Brasil, não há riscos de uma crise como as de 1999 e 2002, porque os fundamentos econômicos estão mais saudáveis.”

Nouriel Roubini, Exame, 13.02.08

Essas observações de Roubini, professor de economia da Universidade de Nova York e assessor econômico da Presidência dos EUA no governo Bill Clinton, são corroboradas por dois indicadores importantes: as reservas cambiais e o risco-país. Antes da crise da Rússia, em 1998, as reservas cambiais (em torno de US$ 44 bilhões na época) representavam 18% da dívida externa do país. Hoje (na casa de R$ 185 bilhões), representam 92% da dívida. Por certo, influenciado por esse aspecto, o risco-país em julho de 1998 era de 600 pontos e passou para 1.400 pontos em agosto do mesmo ano. Na crise atual, por enquanto, o risco-país passou de 220 pontos em dezembro do ano passado para 275 pontos em janeiro deste ano.

“Será uma crise financeira mais séria e mais longa para os Estados Unidos e outros países desenvolvidos do que as que tivemos nos últimos 20 e poucos anos. (…) [mas] o impacto de uma redução na economia americana será muito menor do que foi no início da década de 90 ou até mesmo no início desta década. (…) Pela primeira vez desde a Revolução Industrial há países em desenvolvimento com demanda por commodities maior do que a de países desenvolvidos.”

Martin Wolf, Exame, 13.02.08

Essas observações de Martin Wolf, economista britânico, ex-economista sênior do Banco Mundial e respeitado colunista do Financial Times, chama a atenção para a nova realidade dos países emergentes, dentre os quais figura o Brasil, não como importador mas como grande exportador de commodities, a principal causa, aliás, do bom desempenho da balança comercial e das contas externas do país nos últimos cinco anos. Além disso, o bom desempenho da economia nacional tem fortalecido o mercado interno e, num círculo virtuoso, tem sido fortalecido por ele.

“A estrela do recente ciclo de crescimento no Brasil é o consumo interno. Se a economia interna continuar dinâmica, o que parece o mais provável, o país não deverá sofrer muito com o cenário externo. O crescimento do Brasil neste ano deverá ser de 4,3%.”

Eduardo Loyo, Exame, 13.02.08

Esse comentário de Eduardo Loyo, economista-chefe do banco UBS Pactual e ex-diretor do Banco Central, chama a atenção para a importância do crescimento do mercado interno como uma espécie de antídoto para a crise internacional, a partir do bom desempenho das contas externas. Vamos torcer para que os economistas estejam certos e o Brasil ultrapasse a crise sem maiores danos.

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