Com uma educação básica ruim, o Brasil perde capacidade competitiva

Aproveitando o momento da volta às aulas, vale a pena tratar, mais uma vez, do problema da educação no Brasil. As revistas Veja da semana passada e desta dão destaque ao tema com bons artigos e reportagens, a começar pela Carta ao Leitor que comenta o retorno dos alunos às escolas.

“Para uma pequena parte, isso significa voltar a escolas bem equipadas e conservadas, com currículos modernos e professores preparados e estimulados a ensinar. No caso da imensa maioria, a realidade é oposta. As escolas estão em ruínas, os currículos insatisfatórios e ideologizados e os professores com um nível rudimentar de conhecimento de suas disciplinas — e encaram a profissão como simples bico, na falta de uma coisa melhor. O resultado de tamanha precariedade está expresso, com a clareza de que só a aritmética é capaz, no desempenho sofrível dos alunos brasileiros em provas de avaliação nacionais e internacionais. Em certas áreas, a educação entre nós chegou a uma situação para a qual — para citar diagnóstico semelhante feito sobre a educação americana nos Estados Unidos nos anos 80 — o pior inimigo do país a teria conduzido se pudesse”

Revista Veja, 13.02.08

O pior inimigo do Brasil teria conduzido, se pudesse, à atual situação do ensino no país, sobretudo porque a educação é a ferramenta estratégica mais importante para o desenvolvimento de um povo na realidade competitiva globalizada, em especial o ensino superior. Nos países ditos desenvolvidos, a educação secundária já foi massificada há tempos e o ensino superior é a bola da vez. No Brasil, essa realidade está longe de acontecer.

“Estagnamos por três razões. A primeira é a péssima qualidade da educação básica, que gera um número pequeno de concluintes aptos a entrar no ensino superior. A segunda é o estrangulamento do modelo financeiro: as universidades públicas brasileiras estão entre as mais caras do mundo e sua replicação em escala é inviável, e falta renda na população para custear mais ensino privado. Finalmente, faltavam até há pouco opções de cursos superiores mais adaptados às demandas desse novo contingente de estudantes que querem programas mais curtos e mais direcionados às necessidades do mercado de trabalho.”

Gustavo Ioschpe, Veja, 13.02.08
Sem ensino básico de qualidade, a formação superior deixa muito a desejar. Se a isso junta-se a inviabilidade das universidades públicas e o alto preço das instituições privadas, o quadro fica dramático. E é no nível superior que os países se diferenciarão na chamada era do conhecimento. As estatísticas da Unesco dão conta de que a Coréia e a Finlândia já passaram dos 90% de matrícula no ensino universitário. Suécia, Dinamarca, EUA e Nova Zelândia, mais de 80%. A média dos países da Europa está em mais de 70%. Só para comparação, mesmo com o grande crescimento dos últimos 10 anos, o Brasil está em 24%. Não dá para competir com uma diferença dessas.

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