Em março de 1994, Luiz Otávio Cavalcanti, ex-secretário de Planejamento e da Fazenda do Estado de Pernambuco e editor na época de uma publicação periódica sobre economia, fez uma provocação que viria a ser responsável pelo Gestão Hoje:
“A TGI não tem nada a dizer sobre o Plano FHC?”
Luiz Otávio Cavalcanti
Ele se referia ao lançamento da primeira etapa do Plano Real pelo então ministro da Fazenda do governo Itamar Franco. O plano vinha como uma espécie de derradeira esperança no longo combate contra a inflação que assolava cronicamente a economia brasileira há pelo menos uma década. Antes dele, a sociedade exausta já tinha servido de cobaia para os planos Cruzado (1986), Bresser (1987), Verão (1989), Collor I (1990) e Collor II (1991). Todos fracassados.
“O Plano Real deu certo, porque deu ao Brasil a sua primeira moeda forte em décadas, controlando a inflação e estabilizando a economia. FHC falhou na segunda parte do Governo, quando tentou dar o passo seguinte, o do desenvolvimento econômico sustentado.”
Polibio Braga, jornalista gaúcho
Ao contrário dos outros, o Plano Real deu certo ao enfrentar a inflação crônica e vencê-la, inicialmente usando o engenhoso artifício de “repassá-la” para uma falsa moeda, a URV (Unidade Real Valor), chamada de “moeda de conta” e usada como referência para o Cruzeiro Real. Quando a URV incorporou toda a inflação, foi lançada a nova moeda Real em primeiro de julho de 1994, livre da inércia inflacionária. Mesmo com a inflação domada, não foi fácil a trajetória do Plano Real. Depois do seu lançamento, o plano enfrentou diversas crises internacionais como a do México (1995), a Asiática (1997), a da Rússia (1998), a da Argentina (2001). Toda essa turbulência internacional fragilizou a posição externa do país e, na prática, impediu a retomada do crescimento sustentado, ajudando a arrastar por longos 25 anos o período de baixo crescimento (em torno de 2% ao ano).
Com a interrupção das crises internacionais e a retomada do crescimento mundial em patamares próximos a 5% ao ano, houve uma sensível elevação dos preços das commodities que beneficiou o Brasil (talvez o maior exportador de commodities do mundo). A estabilidade externa, junto com a estabilidade interna (mantida e reforçada pelo governo Lula) permitiu ao país a construção de uma situação macroeconômica considerada a mais sólida dos últimos 30 anos.
“O país vive o melhor momento econômico em três décadas, com uma inédita combinação entre estabilidade, aumento do consumo e da renda e investimentos recordes na produção. É a oportunidade de o Brasil ingressar na elite mundial.”
Revista Exame, 12.03.08
E esta situação perdura ainda, mesmo diante das incertezas decorrentes da ameaça de recessão da economia norte-americana, impactada pela crise do setor imobiliário. Na semana que passou, inclusive, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) anunciou o crescimento recorde do PIB em 2007 da ordem de 5,4%.
Quis a sorte, portanto, que a entrada do Gestão Hoje no seu 15º. ano se desse contemporaneamente a essa boa notícia da alta taxa de crescimento do PIB. Contemporâneo do lançamento do Plano Real, o GH acompanhou durante esses anos os rumos da economia e as tendências da gestão. O que testemunhou até ontem foi, no que tange à economia, a impossibilidade de crescimento sustentado a taxas vigorosas como o Brasil precisa (acima de 5% ao ano). Agora, vamos torcer para que esse crescimento seja duradouro e não mais um alarme falso.