Desde de 2003 que o ambiente econômico internacional vinha mantendo uma tranqüila trajetória de crescimento que chegou a ser considerada a mais robusta desde a década de 1970. Isso pelo menos até agosto de 2007 quando estourou a bolha do mercado imobiliário norte-americano. De lá para cá, o ambiente tranqüilo de mais de quatro anos seguidos passou a ser perturbado por instabilidades periódicas. Nenhuma, entretanto, como a da semana passada.
“A volatilidade do cenário internacional está deixando os analistas exauridos. José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do banco Fator, por exemplo, justifica-se, no último cenário mensal enviado a clientes: ‘Desculpe-me o atraso. A situação está mudando muito rápido…’.”
Sonia Racy, O Estado de S. Paulo, 21.03.08
Para começo de conversa, já no fim de semana (16 e 17.03), o Federal Reserve (Fed) pilotou uma nervosa operação de salvamento do quinto maior banco de investimentos dos EUA, o Bear Stearns, que terminou vendido ao JP Morgan por um preço simbólico de cerca de 2% do que valia no final do ano passado. Além disso, o Fed disponibilizou ao comprador uma linha de crédito de US$ 30 bilhões para saneamento dos ativos seriamente abalados pelo lastro em créditos imobiliários subprime.
“Não fosse o socorro de última hora, o Bear Stearns poderia pedir falência e levar junto para o buraco da insolvência dezenas de outros bancos e empresas.”
Milton Gamez, IstoÉ Dinheiro, 26.03.08
Além dessa medida emergencial, o Fed também cortou, logo em seguida, os juros para 2,25% ao ano (tornando-os, na prática, negativos ante a inflação projetada de 3% ao ano). Mas nem isso impediu uma queda acentuada das bolsas, inclusive a Bovespa que chegou a perder 5% na quarta-feira 19.03. O temor que se espalhou pelo ambiente financeiro internacional foi de uma crise sistêmica bancária, semelhante à acontecida naquela que é considerada a maior recessão da história moderna: a Grande Depressão de 1929 (a propósito desta semelhança, um aspecto positivo diz respeito ao atual presidente do Fed).
“No centro deste furacão, Ben Bernanke, presidente do Fed desde 2006, tem um incentivo extra para solucionar essa turbulência cujas causas e natureza ainda são objeto de intenso debate. Acadêmico brilhante de Princeton, ele dedicou boa parte de seus estudos ao crash de 1929. É considerado por muito dos seus pares o maior especialista vivo no assunto.”
Giuliano Guandalini, Veja, 26.03.08
Pelo menos uma coisa positiva nessa encrenca toda. Porque, como se não bastassem a ameaça de crise bancária e o abalo nas bolsas, a semana terminou com mais uma marca histórica negativa: a maior baixa nos preços das commodities nos últimos 52 anos.
“Os preços das commodities tiveram sua maior desvalorização em uma única semana desde pelo menos 1956, com a possibilidade de redução no consumo global vinda com a desaceleração no crescimento do mundo.”
Folha de S. Paulo, 21.03.08
De todas as preocupações com a crise que se desenha no horizonte do crescimento mundial, essa das commodities é a que mais diretamente atinge o Brasil. Sem a valorização mundial das matérias-primas o país não teria equacionado sua vulnerabilidade externa. Vamos torcer para que seja só um soluço e, não, uma tendência de peso.